Desde que Amor
à Vida estreou, e principalmente ao longo de seus meses, eu me questionava por
que a direção da Globo resolvera alterar o título original da novela. Afinal,
Em Nome do Pai se encaixava perfeitamente bem nas atrocidades de Félix e nos seus
atritos com César. Mas aí o capítulo final de ontem calou todas as minhas
indagações. Eu já assisti a diversos finais de novelas, mas não me recordo de
nenhum que tenha me emocionado tanto. Walcyr voou alto na sua estreia no
horário nobre da Globo, desde as diversas reviravoltas de seus personagens ao
longo dos 221 capítulos de sua trama, até selar o primeiro beijo gay das telenovelas
globais.
Sem dúvida
alguma, o grande protagonista de Amor à Vida foi Félix. De vilão a mocinho
querido dos telespectadores, a sua redenção foi uma das decisões mais bem
acertadas do autor. Já havia lido por aí que Walcyr tinha estragado Félix, desfazendo
um dos melhores vilões da tevê atualmente. Não vejo assim. Félix foi realmente apresentado
como o grande monstro da trama no primeiro capítulo, cometeu diversos crimes,
foi cruel, insensível e prejudicou várias pessoas, porém, ele foi à sarjeta bem
antes do esperado. Aliás, uma das maiores características da novela foi
justamente essa: não prender trama. O reencontro de Paloma com sua filha, que
poderia ter sido o gancho de muitos autores para o capítulo final, Walcyr já desvendou
bem antes do capítulo 30. E bem antes também desmascarou Félix para a irmã.
O muro de
orgulho e prepotência foi aos poucos se quebrando e cedendo lugar à compreensão,
à tolerância e à humildade nos braços acolhedores de Márcia, a grande Tetê
Para-choque e Para-lama, outra personagem, que apesar de alguns exageros, segurou
a novela com honra. Mas os desmandos de Félix tinham uma origem: sua relação
mal resolvida com o pai, que embora não justificasse muito suas atitudes, mostrava
o que a falta de amor e de compreensão é capaz de fazer. A rejeição de César, a
vida inteira, pelo filho - devido a sua homossexualidade -, gerou ódio e
transformou-se em ação, ação destrutiva, Félix virou uma fruta podre, cujo
toque espalhava veneno e destruição pelo caminho de todos.
Ah, mas aí
entrou o amor, e só o amor e o perdão para mudar tudo. O amor de Márcia - sua
babá perdida -, o amor de Niko - o amigo conquistado -, o perdão e o amor de
Pilar e até de Paloma. Félix se sentiu acolhido para recomeçar, ter sua nova
chance, e diante de tanta demonstração de afeto, percebeu que era possível
viver no bem. E ninguém precisa ser condenado à cruz quando está disposto a se modificar e refazer seus atos pelo amor. Aos poucos, a figura do Félix de antes foi desaparecendo e o
vilão se transformou realmente no protagonista da história, suplantando Paloma
e Bruno, e ganhando até par romântico com direito a torcida do público.
O capítulo
final de Amor à Vida foi tão intenso que fica difícil descrever tudo. Algumas passagens,
todavia, merecem destaque. A revelação de Pilar sobre sua culpa na morte da mãe
de Aline; a fuga de Edith com Wagner; o perdão de Paulinha a Félix; a dança
sensual de Márcia, vestida de chacrete, para Atílio/Gentil; Amarylis sendo
desmascarada por Niko; a visita de Paulinha a Ninho na prisão e o remorso dele pelos
seus atos; a notícia de Jonathan de que passou no vestibular de arquitetura e a
comemoração de Félix; Valdirene quase parindo no casamento da mãe; o destino de
Aline; e claro, o desfecho de César, que se viu inválido, traído, humilhado, sem
perspectiva de vida, e foi encontrar, justamente nos braços do filho rejeitado, a
ajuda e o acolhimento de que tanto necessitava no momento. Tão verdadeiro, tão humano. E aí mais uma vez o
amor agiu e levou todo mundo às lágrimas. Numa fotografia deslumbrante, Félix
revela seu amor a César, que reconhece a dedicação do filho e o aceita
finalmente com um “eu também te amo”, que o ex-vilão tanto desejou escutar em toda
sua vida. A vitória do amor sobre o preconceito e a intolerância. Com tudo isso, o tão polêmico beijo entre Félix e Niko, numa cena de pura delicadeza e cumplicidade, depois daquele reconhecer que o chefe de cozinha mudou sua vida, foi apenas
a cereja do bolo.
Já critiquei
muito os enredos pastelões de Walcyr Carrasco, seus diálogos óbvios, seu humor
escrachado, mas hoje ele ganhou um grande ponto comigo. Em tempos em que se vê
tanta desordem no mundo, tanta intolerância, violência, injustiça e incompreensão,
a lição de amor, já difundida lá atrás na canção dos Beatles, veio brotar onde
menos se esperava. Walcyr provou que o título da novela faria jus à sua
história, e Amor à Vida, apesar de ficção, foi um grande exemplo para a
humanidade de que o nosso planeta ainda tem chance, de que o amor ainda pode
transformar esse mundo para melhor.
Concordo em gênero, número e grau ;)
ResponderExcluirWow! Voltou a escrever. :D
ResponderExcluirO amor acima de tudo!
ResponderExcluirTudo por amor. Muito lindo, gostei demais! Pai e filho se amando... lindo! Só o amor!
ResponderExcluirTava com saudades dos teus textos Samuel. Bjo!
ResponderExcluirTexto excelente! Tudo o que penso também.
ResponderExcluirisso mesmo... muito lindo
ResponderExcluirEu não vi nada da novela, mas deu vontade de ver depois de sua crítica.
ResponderExcluirSaudades daqui... Um cantinho de revelações e sonhos...
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