Uma narrativa lenta, os costumeiros
barracos em família, o cotidiano quase caricato de tão puxado para o dia a dia... Não
imaginei algum dia escrever isso, mas Em Família cansa. Parece que dessa vez
Manoel Carlos errou a mão, ou sua fórmula - assim como Glória Perez com Salve
Jorge - já tenha se desgastado. A impressão que fica é que não há mais o que
mostrar, tudo já é conhecido, e ninguém tem paciência para acompanhar um pouco
mais do mesmo.
Quem vinha seguindo o ritmo dos
últimos autores, de João Emanuel Carneiro a Walcyr Carrasco, sentiu a diferença
ainda no primeiro capítulo. Embora Glória e Walcyr não tenham mantido o frenesi
de Avenida Brasil, os primeiros capítulos de Salve Jorge e Amor à Vida foram bem
mais movimentados. A história de Em Família até parece envolvente, mas a
lentidão de novela das seis com que vem sendo apresentada tem prejudicado seu
desempenho.
E ainda há mais três fatores que
têm contribuído para a novela andar para trás: o excesso de atores
desconhecidos do grande público entre os protagonistas e os principais coadjuvantes
das duas primeiras fases; a história centrada num grupo de adolescentes, que
faz lembrar uma Malhação no horário nobre; e a longa, exaustiva e monótona segunda
fase da trama. Na verdade, se Maneco tivesse reunido toda a história dessas
duas fases num primeiro capítulo bem enxuto, conseguiria mostrar ainda umas
duas ou três cenas da terceira fase, deixar o público ansioso pelo que viria
depois e garantir uma boa estreia.
Todavia, o autor optou por esmiuçar
o máximo possível a adolescência de sua última Helena, e a resposta do público,
sedento por agilidade, veio em sequência: 33 pontos de audiência no primeiro
dia - o pior dos últimos tempos - 29.4 no segundo e 29.2 no terceiro. A Globo
já providenciou as alterações para não continuar perdendo seus preciosos
pontinhos na programação: a reedição dos capítulos. A mudança para a fase com
Júlia Lemmertz, que já tinha sofrido uma antecipação do roteiro original do
capítulo 12 para o 10, agora chegará no capítulo 8. Tudo isso para ver se a
fase atual da trama, com o elenco de peso da casa, consegue prender os
telespectadores e garantir a liderança com tranquilidade.
E como uma falha nunca anda desacompanhada,
o tal "Momentos em Família" ao final de cada capítulo não deixa claro para o
público se o que é produzido é ficção ou realidade. A princípio parece
tratar-se de fatos, até pela tradição do autor de acrescentar um depoimento
real a cada dia, nas novelas anteriores. Mas é possível perceber que há
manipulação de imagens, cortes e intervenção de atores. A ideia original de
aproximar as histórias apresentadas no folhetim com as de pessoas normais ficou
embaçada, e o que se vê mais parece uma novela dentro da outra. E para
completar o ciclo de estranhezas de Em Família, a disposição dos créditos do
elenco na abertura não estava tão desajustada desde que O Clone, em 2001, inovou
a maneira como eles aparecem.
Mas Em Família está só no comecinho,
pode fazer muito ainda para ganhar a fidelidade do público. Talvez quando a
história começar a se desenvolver no Rio de Janeiro, no elitizado Leblon, as
coisas tomem um rumo. Ou a mesma fórmula batida de Maneco prove que a inovação
é essencial, até mesmo para quem tem um estilo único. Parece que sozinho, o bom
texto trabalhado em Por Amor, Laços de Família, Mulheres Apaixonadas, Páginas
da Vida e Viver a Vida não consegue mais o mesmo sucesso. E esse nem foi o
problema da última - duramente criticada -, mas a falta de uma boa trama para a
Helena de Taís Araújo, e até mesmo a interferência do Ministério Público do
Trabalho na vilania da personagem de Klara Castanho, como se ela, "uma velha
disfarçada de criança", não conseguisse distinguir realidade de ficção.
Enfim, talvez em nome das grandes obras
que já saíram de suas mãos, seja de bom tom ter um pouco mais de
paciência com Manoel Carlos e aguardar o desenrolar dos próximos capítulos. Afinal,
com clichês ou não, Em Família é sua despedida, e tem muito autor por aí que
deveria estar de despedindo também das telenovelas, mas infelizmente ainda estarão
no ar por um bom tempo.
Concordo com tudo.
ResponderExcluirtbm concordo
ResponderExcluirAssino embaixo Samuel! Estou até gostando de "Em Família"... mas o meu saudosismo de ver novelas não tinha me deixado atentar tanto para os detalhes que você destacou... :) Agora uma coisa que está me intrigando é a escalação dos atores da próxima fase... Vanessa Gerbeli mais velha que Humberto Martins e Julia Lemmertz não sei se vai convencer...
ResponderExcluirRealmente, João Henrique. E são muitas outras desproporções na escalação da 3ª fase. Giovanna mais nova do que Thiago Medonça, pra ser a caçula da família. Humberto Martins e Gabriel Braga com uma distância de 10 anos de um pro outro. A própria Lemmertz mais velha que Gabriel, quando ela nasceu depois dele na trama... Vamos aguardar...
ExcluirPq é a despedida dele?
ResponderExcluirFOXX, porque ele já deixou claro que não fará mais novela para o horário nobre. O máximo que ainda quer fazer são minisséries.
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