
Nos Estados Unidos a greve dos roteiristas colocou pelo menos um pouco em evidência a carreira desses profissionais. Há algum tempo venho desejando escrever algo sobre isso, mas o tempo e os compromissos me impediram de fazê-lo. Contudo, ainda quero manifestar meu pensamento tendo em vista a relevância do assunto para mim.
Escrever e imaginar situações, fantasiar, vivê-las no papel e na mente são algumas das emoções dessa profissão tão solitária. E solitária por dois motivos. Primeiro porque a arte de escrever é por si só solitária, embora alguns roteiristas optem pela colaboração e parceria com outros, na hora de pôr as idéias no papel é um encontro consigo mesmo. E segundo porque a profissão de roteirista ainda não tem o merecido valor que ela deveria ter.
Quando se produz um filme, um seriado ou algo do gênero o nome de destaque não é o do roteirista, quem brilha é o diretor. É totalmente aceitável e merecido o trabalho do diretor, foi ele quem deu vida e buscou o melhor de si para transformar aquela história agradável ao público. Entretanto, esquecem que sem o trabalho daquele que escreveu todos os passos que o diretor devia tomar não haveria honra alguma. Não seria possível destacar o trabalho dos dois com a mesma importância? De quem é o filme afinal, de quem escreveu ou de quem dirigiu? Muitas vezes, quando o próprio roteirista não produz o filme também, ele passa a ser de quem dirigiu.
No Brasil o papel do roteirista só ganha grande ênfase nas produções das telenovelas. O autor de novelas é sem dúvida aquele que detém o grande estágio de um profissional dessa área. Talvez pela longa jornada que é manter uma novela no ar ele seja tão reconhecido. O mesmo não acontece com autores de sitcons e filmes brasileiros. E ainda sendo a única referência em termos de sucesso profissional, o espaço da telenovela é bastante fechado. A Rede Globo que controla a grande produção da teledramaturgia brasileira mantém um núcleo em torno de dez autores fixos alternados nos três horários de exibição da casa. Mas nos bastidores escondem-se cerca de 200 roteiristas com trabalhos secundários, engavetados e congelados à espera de uma aprovação quase que irreal de sua sinopse.
A nova janela que se abre do outro lado do muro parece caminhar na mesma direção. A Rede Record trabalha com autores que estavam engavetados na Rede Globo e já são reconhecidos tanto no trabalho como no financeiro. Tiago Santiago, autor de novelas como Escrava Isaura e Prova de Amor já recebe o mesmo que o consagrado Gilberto Braga da Globo. Contudo, uma nova ninhada de roteiristas entrarão na emissora e terão que se preparar para o frio do novo congelador.
Apoio a iniciativa dos roteiristas americanos que lutam por uma fatia mais do que justa das vendas dos DVDs dos filmes e dos seriados, um grande mercado que se abre mais a cada dia. Quem se dedica em ficar horas intermináveis diante do computador escrevendo, vivendo, mergulhando e fugindo do mundo merece uma atenção mais especial. Afinal, nós que escrevemos, escrevemos porque gostamos, escrevemos porque queremos compartilhar nossa visão de mundo com as pessoas e tentar quem sabe mudar um pouco a concepção que a sociedade faz dele. Abrir os olhos para uma nova realidade e fazer sonhar, imaginar, planejar e desejar estar em um lugar melhor, onde tudo seja possível. E só assim, através das teclas do computador, uma letra se junta a outra e consegue levar esperança, brotar emoções e transformar o que parecia fantasia na mais pura realidade. Porque se uma criança passar por um mendigo ao término de um filme e o olhar diferente, já fizemos a nossa parte.
sem comentários.............
ResponderExcluirNOTA 10
silmara