Por muito tempo fui perseguido pela palavra 'pragmático'. Esbarrava com ela sem nunca entender completamente o significado de alguém pragmático, mesmo consultando dicionários, fóruns yahoo e todo tipo de 'pédias'. Talvez porque eu nunca tenha sido uma pessoa pragmática. Minha vida foi alimentada de ideologias nada práticas. Uma amiga sempre me dizia que dava a solução e eu arranjava o problema. Eu gostava de acreditar em um ideal de felicidade e não abdicava de viver essa fantasia. Mas quem sonha demais em um mundo que valoriza a praticidade, parece estar sujeito a virar sonâmbulo na sociedade. Idealizar a vida é uma tarefa válida, é acreditar nas possibilidades de mudança do mundo, permitir ser romântico, cafona, piegas! Mas sonhar, sonhar... querer, querer não basta. Sem um pouco de agilidade parece que nada sai do abstrato e entra no concreto.
Fazendo uma análise das pessoas ao meu redor, depois que consegui desvendar o mistério por trás dessa palavra, descobri que sempre tive um exemplo clássico de alguém assim. A palavra que me seguia pelas esquinas estava dentro da minha própria família sintetizado na figura da minha tia Auxiliadora. Se alguém pode exemplificar o que é o pragmatismo é ela. Posso fazer um mau julgamento, mas tenho a impressão de que ela nunca se agarrou em nenhuma nuvem. Claro, ela até pode ter suas fantasias, mas nunca deixou que elas fossem a sua vida. Praticidade é com ela mesmo! Não me vem à mente nenhuma ocasião em que ela não tenha chegado a solução de algum problema com o qual se deparou. É a verdadeira desatadora dos nós, simplesmente porque onde vemos um grande obstáculo através da neblina das nossas ilusões, ela vê o prático, o ágil e o possível.
Mas não é uma tarefa fácil abandonar as convicções adquiridas ao longo dos anos para se entregar à praticidade. Afinal, se os sonhos nos movem, como deixá-los de lado em nome de uma vida mais prática? Será que todas as pessoas idealistas virão a se tornar pragmáticas algum dia? Se é um caminho para tornar a vida mais fácil, perde-se um pouco o sentido do ser, já que uma saída prática quase nunca é a que idealizamos. E o que fazer? Frustrar-se com o mundo diante da impossibilidade das conquistas ou aceitar a solução paliativa sugerida? A vida nos força a ser pragmáticos. Diariamente situações nos obrigam a deixar de lado certos anseios e nos conformar com o que pode ser oferecido. O conformismo e o comodismo são outras armadilhas que nos distanciam ainda mais do ideal. Em um dia tenho total confiança em mim e quero desafiar o mundo, no dia seguinte o mundo parece um rival grande demais, e um buraquinho é o melhor local para se abrigar.
Provavelmente se tivesse sido uma pessoa pragmática, teria feito uma faculdade visando unicamente o mercado de trabalho e o dinheiro no bolso. O idealista, pois, cria o seu mundo ideal e segue pelos mais diversos caminhos para chegar nele, sem a garantia que um dia chegará, ao passo que o prático enxerga as garantias futuras e a estabilidade financeira e batalha por isso. Mas não sei se seria melhor ter uma vida prática, que a meu ver parece uma vida sem muito brilho ou felicidade alguma. É como se quem partisse para uma "faculdade prática" fosse desprovido de vocação e enxergasse no dinheiro o único caminho do sucesso. Então o que fazer hoje? Continuar insistindo nas possibilidades incertas daquilo que idealizo ou partir para algo útil, rápido e seguro, abandonando todo aquele universo imaginário? Às vezes, sonhar demais cansa, e um atalho pelo caminho surge quase como um oásis em um deserto tão infértil de realizações, infelizmente.
gente, como eu qria uns conselhos de sua tia agora...
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