domingo, 11 de dezembro de 2011

Os incensos

E mais uma vez me pegava comprando mais de dez pacotinhos de incenso na loja. Sempre que isso acontecia, algum funcionário me dava uma rápida olhadela para conferir a figura que estava se preparando para uma grande sessão de descarrego. Isso não me incomodava. Minha amizade com os incensos teve início quando eu ainda era criança e minha mãe aparecia aqui acolá com algum, que ganhava como brinde de uma revista. Depois quando viajávamos para Natal nas férias, sempre comprávamos alguns na lojinha Arte Final do shopping. O cheirinho que exalava de lá era tão bom, tão agradável, que nunca passávamos sem comprar ao menos um pacotinho. Era um verdadeiro alucinógeno.

Quando fui para Campina Grande, vez por outra, minha mãe levava algum para o apartamento. Eu também comprava quando estava sozinho. Mas foi depois do teatro que passei a apreciar mais a essência deles. A cada ensaio, Chico acendia um ou dois, espalhava pelo ambiente e deixava queimando enquanto a gente se aquecia. Nas apresentações eles também estavam presentes, afastando qualquer interferência nociva e equilibrando o espaço com boas energias. O resultado final era sempre bom, se era contribuição dos incensos, eu não sei, mas era melhor continuar com eles.

Por fim, eu mesmo já os estava levando para os espetáculos. Enquanto todo mundo se preparava para a apresentação, eu acendia alguns pelo camarim e pelo palco e deixava a fumaça tomar conta. O aroma, a chama e as cinzas que caíam, me tranquilizavam, me levavam conforto, transformavam aquele lugar num pedacinho do meu lar e estreitavam os laços entre mim e o palco. A partir daí passei a comprar grandes quantidades e espalhar ao menos um em cada cômodo do apartamento. Me banhava de sândalo, cravo, mirra, flor de laranjeira, benjoim, canela. Muitas vezes dava para se sentir o perfume ainda das escadas.

Até que uma vez, ao receber a visita de um amigo, que se mostrou curioso com a quantidade de varetinhas queimadas sobre um pequeno jarro na janela, fui chamado a atenção para uma curiosidade. Como eu, ele também gostava de incenso, mas me disse que não acendia muito porque os vizinhos podiam pensar que ele cheirava marijuana. Sim! Eu não sabia, mas os chegados na cannabis, costumam acender incensos para camuflar o cheiro da maconha em volta. 

Nesse momento, eu me lembrei das vezes que os funcionários das lojas me olhavam quando eu passava com toda aquela quantidade de incenso no caixa. Vai ver eles não pensassem que eu iria fazer um descarrego, mas a confraternização dos amigos da folhinha. Lembrei também das minhas sessões de purificação e dos vizinhos que passavam me olhando quando eu saía do apartamento e o aroma me acompanhava. De repente tudo ganhara uma outra dimensão. Eu era o novo maconheiro do condomínio. De hippie é que eu não tinha cara. Foi um episódio engraçado, mas de uma coisa eu tenho certeza, deixar de comprar meus bastõezinhos por fama de maconheiro ou macumbeiro é que não vou mesmo.

9 comentários:

  1. adoro essesinsenssos so o cheirinho deles e dimais, quando eu acendo um ja nem acaba ja vou acendendo outro adoro a casa fica cheirando, adorei o macunheiro. Porque eu so uma macueira tambem adorei.

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  2. Adorei ter sido lembrado por vc através dos cheiros dos incensos.Lindo o que vc escreveu. Engraçado que na última apresentação da ÚLTIMA ESTAÇÃO eu lembrei de vc enquanto acendia o incenso...E OLHA QUE AGORA É MUIIIIIIIIIIIIIIIIITOOOOOOOOOOOOO incenso...Kkkkkkkkkkkkkkk...Saudades.Grande XÊRO!!!

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  3. Samuca... adorei o texto. Estou há quatro meses em Sampa e quando cheguei aqui também quis logo comprar incenso, pois sou da mesma opinião que a sua.Quando acendi o primeiro, a vizinha soltou logo um grito: " quem está queimando incenso?". Ela realmente estava apavorada...kkk. Nunca imaginei que um lugar tão plural quanto São Paulo existisse espaço para tais preconceitos. Bjokas

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  4. Oi, Vanessa!
    Quer dizer que está em São Paulo?
    Coisa boa!
    Tenho certeza que vai dá tudo certo pra vc.
    Pois é, em todo lugar existe esse tipo de pensamento.
    Imagino que um jovem acender incenso aí, já é motivo de muita preocupação dos vizinhos mesmos. rsrs
    Abração!!

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  5. Minha irmã caçula aprendeu comigo sobre usar incensos.Eu parei e ela viciou.O predileto dela é de canela.
    Abraços,menino.

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  6. ops! agradecendo e retribuindo o carinho da visita. adorando estar por aqui e curtir sua proposta no blog ... seguindo e linkando ...

    ps: não se esqueça mesmo das duas "velinhas" ... sempre tem algum desavisado q não trás ... rs ... sem "vela" não come o "bolo" .... kkkkkkkkkk

    bjão

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  7. Também tenho mania de comprar caixinhas de incensos. Gosto deste cheiro .
    Feliz ano nove.
    Beijos!!!

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