domingo, 28 de dezembro de 2014

Entre as molas

Esses dias andei pensando... O tempo é uma estrada feita de mola que só tende a esticar. E quanto mais se estica um lado, mais distante ficamos da sua outra ponta. Ele não poderia ser uma reta porque precisa amaciar os percalços da vida. Mas o que vai ficando nesse meio? Ou melhor, o que vai surgindo e desabrochando enquanto ela cresce? Quando mais novo, eu costumava analisar o quanto mais distante eu estava ficando de um determinado ano. Épocas e momentos especiais iam se alongando sempre mais. De repente, aquele ano mágico ia se tornando velho e mais velho, até virar apenas uma pequena sombra distante. Era a mola distendendo-se e fazendo do garotinho, um adolescente; e desse, um homem.

Hoje cruzam por mim diariamente Eduardas, Luanas, Thalias, que, não fosse um simples detalhe, me pareceriam meros nomes de jovens adolescentes. Porém, alguns anos atrás não era comum encontrar por aí uma garota chamada Thalia ou mesmo Eduarda - o masculino sim era o comum -, assim como o feminino de Marcelo também soava estranho e só a Machado de Assis e a seu Brás Cubas remetia-se tal referência. Daí que olhando a idade dessas meninas, entre seus 16 e 18 anos, a explicação é bastante óbvia. Em 1996 a Rede Globo exibia - como agora voltará a exibir - um dos seus maiores sucessos da teledramaturgia, a novela O Rei do Gado, cuja mocinha se chamava Luana, uma boia-fria bronca, mas de coração doce, que cativou não só Bruno Mezenga, mas o público brasileiro. E haja Luanas a nascerem naquele ano, filhas do poder de influência da mídia.

O mesmo aconteceu no ano seguinte, quando Manoel Carlos arrebatou o público com sua Helena que sacrificou seu bebê vivo em troca do filho morto da filha, para não vê-la sofrer diante da impossibilidade de voltar a engravidar, em Por Amor. A filha mimada e egoísta, apesar de sofrer forte rejeição do público, parece que conquistou o coração de alguns futuros papais, que batizaram suas filhas naquele ano de Eduarda, nome da mocinha da história. E quem não se lembra do fenômeno das três Marias da atriz e cantora mexicana Thalia? Maria Mercedes, Mari-Mar e Maria do Bairro consagraram Thalia no Brasil e a fez visitar o país, pela primeira vez, em 1997, quando todos passaram a conhecer não só a atriz, mas também a cantora, e seu nome virou sensação.

São meras constatações, mas que me fizeram refletir sobre essa mola que se distende mais a cada dia, fora do nosso controle. Não penso melancólico sobre os bebês que nasciam batizados com os nomes da época e hoje estão às portas da universidade, de onde parece que saímos ontem. Apenas me divirto com as mudanças que acontecem. Não há como descrever o tempo, como segurá-lo, ou mesmo observá-lo, ele simplesmente passa, e só depois o sentimos, ou sentimos as mudanças que ele nos deixa. O tempo é o hoje, é o agora, é o sol que se põe no fim da tarde, é o garotinho atravessando a rua, a folha de papel picada caindo da sacada, o tempo é o instante, é o momento que nos cerca, o que fica atrás dele é essa estrada percorrida sem sinalização de retorno. Sendo uma mola, às vezes nos aproximamos de algum caminho percorrido, quando nos vem alguma saudade ou quando uma Eduarda te faz lembrar que já temos algumas estradas construídas, não muito longas, mas que já nos mostraram algo a mais e nos tornaram mais flexíveis.

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