sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Ainda há espaço pra Maneco?

Uma narrativa lenta, os costumeiros barracos em família, o cotidiano quase caricato de tão puxado para o dia a dia... Não imaginei algum dia escrever isso, mas Em Família cansa. Parece que dessa vez Manoel Carlos errou a mão, ou sua fórmula - assim como Glória Perez com Salve Jorge - já tenha se desgastado. A impressão que fica é que não há mais o que mostrar, tudo já é conhecido, e ninguém tem paciência para acompanhar um pouco mais do mesmo.

Quem vinha seguindo o ritmo dos últimos autores, de João Emanuel Carneiro a Walcyr Carrasco, sentiu a diferença ainda no primeiro capítulo. Embora Glória e Walcyr não tenham mantido o frenesi de Avenida Brasil, os primeiros capítulos de Salve Jorge e Amor à Vida foram bem mais movimentados. A história de Em Família até parece envolvente, mas a lentidão de novela das seis com que vem sendo apresentada tem prejudicado seu desempenho.

E ainda há mais três fatores que têm contribuído para a novela andar para trás: o excesso de atores desconhecidos do grande público entre os protagonistas e os principais coadjuvantes das duas primeiras fases; a história centrada num grupo de adolescentes, que faz lembrar uma Malhação no horário nobre; e a longa, exaustiva e monótona segunda fase da trama. Na verdade, se Maneco tivesse reunido toda a história dessas duas fases num primeiro capítulo bem enxuto, conseguiria mostrar ainda umas duas ou três cenas da terceira fase, deixar o público ansioso pelo que viria depois e garantir uma boa estreia.

Todavia, o autor optou por esmiuçar o máximo possível a adolescência de sua última Helena, e a resposta do público, sedento por agilidade, veio em sequência: 33 pontos de audiência no primeiro dia - o pior dos últimos tempos - 29.4 no segundo e 29.2 no terceiro. A Globo já providenciou as alterações para não continuar perdendo seus preciosos pontinhos na programação: a reedição dos capítulos. A mudança para a fase com Júlia Lemmertz, que já tinha sofrido uma antecipação do roteiro original do capítulo 12 para o 10, agora chegará no capítulo 8. Tudo isso para ver se a fase atual da trama, com o elenco de peso da casa, consegue prender os telespectadores e garantir a liderança com tranquilidade.

E como uma falha nunca anda desacompanhada, o tal "Momentos em Família" ao final de cada capítulo não deixa claro para o público se o que é produzido é ficção ou realidade. A princípio parece tratar-se de fatos, até pela tradição do autor de acrescentar um depoimento real a cada dia, nas novelas anteriores. Mas é possível perceber que há manipulação de imagens, cortes e intervenção de atores. A ideia original de aproximar as histórias apresentadas no folhetim com as de pessoas normais ficou embaçada, e o que se vê mais parece uma novela dentro da outra. E para completar o ciclo de estranhezas de Em Família, a disposição dos créditos do elenco na abertura não estava tão desajustada desde que O Clone, em 2001, inovou a maneira como eles aparecem.

Mas Em Família está só no comecinho, pode fazer muito ainda para ganhar a fidelidade do público. Talvez quando a história começar a se desenvolver no Rio de Janeiro, no elitizado Leblon, as coisas tomem um rumo. Ou a mesma fórmula batida de Maneco prove que a inovação é essencial, até mesmo para quem tem um estilo único. Parece que sozinho, o bom texto trabalhado em Por Amor, Laços de Família, Mulheres Apaixonadas, Páginas da Vida e Viver a Vida não consegue mais o mesmo sucesso. E esse nem foi o problema da última - duramente criticada -, mas a falta de uma boa trama para a Helena de Taís Araújo, e até mesmo a interferência do Ministério Público do Trabalho na vilania da personagem de Klara Castanho, como se ela, "uma velha disfarçada de criança", não conseguisse distinguir realidade de ficção.

Enfim, talvez em nome das grandes obras que já saíram de suas mãos, seja de bom tom ter um pouco mais de paciência com Manoel Carlos e aguardar o desenrolar dos próximos capítulos. Afinal, com clichês ou não, Em Família é sua despedida, e tem muito autor por aí que deveria estar de despedindo também das telenovelas, mas infelizmente ainda estarão no ar por um bom tempo.

6 comentários:

  1. Concordo com tudo.

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  2. Assino embaixo Samuel! Estou até gostando de "Em Família"... mas o meu saudosismo de ver novelas não tinha me deixado atentar tanto para os detalhes que você destacou... :) Agora uma coisa que está me intrigando é a escalação dos atores da próxima fase... Vanessa Gerbeli mais velha que Humberto Martins e Julia Lemmertz não sei se vai convencer...

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    1. Realmente, João Henrique. E são muitas outras desproporções na escalação da 3ª fase. Giovanna mais nova do que Thiago Medonça, pra ser a caçula da família. Humberto Martins e Gabriel Braga com uma distância de 10 anos de um pro outro. A própria Lemmertz mais velha que Gabriel, quando ela nasceu depois dele na trama... Vamos aguardar...

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  3. Respostas
    1. FOXX, porque ele já deixou claro que não fará mais novela para o horário nobre. O máximo que ainda quer fazer são minisséries.

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