quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A essência que eu respiro

Assim como dei início às postagens de 2011 escrevendo sobre o significado especial da água em minha vida, como fonte de renovação e inspiração, quero abrir o Celeiro 2012 tecendo o valor de outro elemento a mim tão vital como ao ar. De longe, é a maior sintonia que estabeleço com a essência profunda da alma. Diante da absurda quantidade de ideias e pensamentos que circulam todos os dias na minha mente, o papel em branco é a melhor via que encontro para converter borrões em algo tangível. Ah, a vida não teria a menor graça não fossem as formas tridimensionais das palavras, as reticências dos textos, as entrelinhas. A vida ganha, sem dúvida, mais colorido no papel. É nisso que acredito. É por isso que vivo cada dia. Pincelando o ar com o perfume das experiências, o sabor da meninice, a melodia dos corações. Oh, criptogramas de palavras que vagueiam pelos campos tão férteis da mais legítima felicidade. Vastas margens de sonhos em cristalinas fontes de conhecimento e criação. Que prazer te navegar!

Recordo que na escola quando regressávamos às aulas, a professora sempre nos cobrava uma redação sobre as nossas experiências durante as férias. Eu não entendia por que a maioria dos alunos reclamava da tarefa e a cumpria como o primeiro fardo daquele ano que tinha início. A meu ver, era uma das melhores atividades da primeira semana. Adorava descrever e narrar os fatos que haviam transcorrido comigo, sempre encontrando uma maneira de tornar cada detalhe mais divertido do que até realmente fora. Como era gostoso refazer os acontecimentos, tendo agora todos em minhas mãos, ao meu controle. A sensação de comando sempre foi algo intrínseco ao meu ser. Se durante um trabalho em grupo eu estivesse à frente da tarefa, o esforço era nítido, e o resultado eu dominava por completo. Por outro lado, se eu fosse apenas mais um peão no tabuleiro, não conseguia desenvolver nem 10% da minha capacidade. Me encostava. E não era preguiça, apenas não conseguia me envolver por inteiro se não estivesse na direção.

O domínio que me faltava lá, eu vertia na vida dos bonecos, meus melhores amigos e brinquedos. Fui o diretor de suas vidas, suas histórias, seus destinos. Era seu deus. Sozinho na sala, no quarto ou no quintal, traçava as linhas de cada ser que passava a existir em minhas mãos. Criei alguns filmes que reprisava em outros momentos. Até uma novela surgiu nesse período. Meu quarto ficava arrumado (ou bagunçado) com os ambientes e os núcleos da trama, e toda noite das sete às oito horas eu exibia um capítulo, com direito a vinheta de abertura e comerciais. E como a novela foi um grande sucesso, reprisei também algum tempo depois. Era inefável alçar voo à imaginação e se deixar levar pelos caminhos que a própria alma desde cedo revelava tão autênticos.

Quando os anos tornaram inviáveis as aventuras com os bonecos, transferi meu mundo para a folha de papel. As primeiras histórias que me recordo escrever envolviam romances conturbados, acidentes, mistérios, relações destroçadas pela guerra, e até pessoas abduzidas por OVNIs. Não poupava esforços à imaginação. Acho até que hoje sou bem mais moderado que naquela fase. Não me preocupava tanto com formas e contextos, o importante era o que vinha na cabeça e eu queria explorar. Desde essa época eu já percebia que a arte, a fantasia, a ficção, era muito mais exuberante que a realidade. Hoje continuo me alimentando dessa fonte que não seca. Sempre que preciso me encaixar, compreender a lógica dos acontecimentos, reviver o passado, é na escrita que encontro o amparo certo. É nela que ganho a sustentação e a confiança no porvir. Seja na intrépida personagem de um seriado, na narração de um flashback da vida ou na simples descrição de um palito de fósforo. Escrever... levar as minúcias do meu mundo ao conhecimento do próximo é, sem dúvida, o meu grande alento.

4 comentários:

  1. Oi Sam! Como sempre amei seu texto.
    Saudades.

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  2. meu adorei o texto e assim mesmo sempre com esperança gostei muito do que você escreveu, amei ja estava com saudades continue não nos abodone beijo.

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  3. eu nunca fiz essa redação q todo mundo fala...

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  4. Detestava escrever essa tal redação.
    Acho que nossa professora era muito curiosa, pois lia todas.

    Abração,menino.

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