terça-feira, 22 de novembro de 2011

Marlon e a bola

Escutava Fagner na sala com minha mãe. Marlon corria pra lá e pra cá com sua bolinha de desodorante roll-on, seu objeto sagrado. Vez por outra, minha mãe chamava sua atenção para ele tirar a bola de perto dos móveis, antes que ela rolasse pra baixo de algum. Quando isso acontecia, ele traçava em sua cabeça todas as estratégias possíveis para retirá-la de lá, e em última alternativa, quando sentia que não seria capaz de fazê-lo, suplicava nossa ajuda da única maneira que conhecia: latindo! E nesse dia não seria diferente. Em pouco tempo o vimos com o focinho encostado no canto da estante e a bunda pra cima, em sua típica posição de herói farejador. Como percebemos que seria impossível ele retirar a bola dali, começamos a contar quanto tempo demoraria até ele pedir ajuda. Não deu outra! Começou com um pequeno grunhido, um chorinho, em seguida olhou para a gente e latiu. Era o sinal. Sua salvação dependia de nós. Minha mãe foi até lá e retirou sua bolinha.

Contudo, como já era de se esperar, pouco tempo depois, já estava ele de novo, focinho no chão e bunda pra cima. Só que dessa vez ele conseguiu a proeza de fazer a bola entrar em umas das cavidades externas da caixa de som. Meu aparelho de som é daqueles antigos, cujas caixas são bem maiores e separadas do conjunto. Ainda tem toca-discos nele. Uma raridade! Brinco com meu primo de 13 anos que ele tem a idade do meu aparelho. E claro que com as caixas no chão, era de se admirar que Marlon ainda não tivesse inserido a bola lá. Mas o dia chegou! Minha mãe ainda foi lá, procurou por trás da estante imaginando que estivesse por ali, mas nada. A direção do focinho dele só indicava um lugar, a bola estava dentro da caixa. E foi o que constatei quando cheguei lá. Conseguia até tocar nela, sentia correr de um lado a outro, mas era praticamente impossível retirá-la de lá. "Esqueça, Marlon! Essa bolinha você perdeu!".

Marlon, no entanto, não iria abrir mão de seu objeto precioso assim de cara. Fincou raiz ao pé da caixa e ali ficou. Não adiantava chamá-lo ou tentar fazer esquecê-lo. Ele não queria papo! Conseguiria sua bolinha a qualquer custo. Não tardou muito e começaram os latidos, os choramingados, uma pata forçando inutilmente o buraco, outra arranhando a tela. Minha avó encontrou a outra bolinha dele e antes de entregar, eu tentei subestimar a inteligência canina. Peguei a bola, coloquei no bolso, fui até a caixa, fingi que estava tentando retirar a outra, passei secretamente aquela entre minhas mãos e mostrei a Marlon como se fosse a que estava presa. Ele começou a pular de alegria, eu joguei então a bola no chão e ele correu até ela. Pronto! Problema resolvido! Foi o que pensei. Não deu dois segundos, Marlon cheirou a bola e olhou para mim, esperando que eu lhe entregasse a bola verdadeira. Como percebeu que eu não a tinha, voltou a seu lugar em frente a caixa e lá deitou.

Seu tormento continuou ainda ao longo da tarde. Todo mundo saía da sala e ele continuava lá. Se por acaso saísse para beber água ou lambiscar sua ração logo estava de volta. Quando alguém passava, ele olhava suplicante e latia. Mas não havia como retirar a bola dali. Joguei várias vezes a outra bolinha contra o chão, na tentativa de animá-lo a correr atrás, sem sucesso. Impaciente com a insistência de Marlon em obter aquela bendita bola, fiz minha última tentativa. Desconectei os fios do aparelho de som, retirei a caixa do local, enfiei os dedos na abertura do buraco e balancei a caixa até sentir a bola rolando em torno da saída. A manobra durou alguns segundos, até que em uma das voltas, a bolinha passou pela cavidade, encontrou meus dedos e mergulhou saindo. Meu sorriso não era de vitória, ao menos não minha. Marlon era quem verdadeiramente tinha conseguido retirar a bola através da sua eterna dedicação, afinal, na sua esperteza canina, o que entrou devia sair. Soltei a bola no chão, ele agarrou apressadamente e saiu desfilando com seu troféu na boca.

6 comentários:

  1. Olá! Conhecendo essa brincadeira de Marlon com a sua bolinha, imagino a insistência dele. Uma coisa aprendi com o sábio Marlon, por maior que seja o obstáculo não devemos desistir dos nossos objetivos, a persistência abre portas e cria situações para o sucesso. Valeu Marlon!

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  2. marlon é um insistente isso sim. hehe

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  3. nossa marlon e um cachorrinho super esperto, conhece todos da casa, por nome brincar com todos , eu adoro cachorro, mas marlon e belo dimais, muito lindo a persistencia dele e um amor meu marlon ele ficar um pedaço comigo e depois soube pra ficar com sam, ele e o nosso Bebe.

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  4. Que fofo!Adoraria ter um cachorro.Pena que moro em ap.Nao é possível.Marlon é poodle,ne?Poodle adora essas brincadeirinhas de bolinha.
    Abraços,meino.

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  5. Prezado amigo Samuel, é com carinho que reescrevo para vc na esperança de ainda lembrar de mim. Nossa que drama... Apesar do tempo sem dar uma olhada no seu blog, vi que não perdeu a mão preciosa para escrever. Marlon se parece muito com meu Peta. Ele é um cachorro sapeka e com os mesmos prezepes do seu.. Agora será mais fácil para nos comunicarmos. Quando quiser ´dá uma passada no meu novo blog.. É bem novinho, recem chegado. Assim manteremos o contato. Cambio, desligo...Léa

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  6. Saudades Sam... Passei pra reabastecer-me de grãos. rsrs

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