segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Os controladores de foco

Nenhum fato é tão presente na história da humanidade quanto a obsessão do homem pelo poder. Por trás das guerras, atentados, conflitos étnicos e religiosos, está sempre a necessidade de domínio, de grandeza, de submeter o outro aos seus próprios interesses. O poder fascina, seduz, alucina e mata. O verdadeiro responsável pelas quase 3 mil vítimas dos ataques do 11 de setembro nos Estados Unidos não foi Osama Bin Laden, a Al-Qaeda, ou os terroristas suicidas, mas a busca desenfreada pelo poder. Uma sucessiva cadeia de acontecimentos ao longo do tempo que leva o homem a provocar e a testar sua própria força. Nós construímos a história a cada dia e somos responsáveis por toda reação oriunda de uma ação anterior, como previa o princípio da terceira lei de Newton. Desse modo, encontrar um culpado exato por todas as catástrofes do mundo é como lançar toda a culpa da crucificação de Cristo em Pilatos. Há sempre algo mais, um caminho nem sempre revelado onde se esconde a verdade e a origem dos fatos.

Ontem a atenção do mundo esteve voltada para o vazio deixado no local onde antes reinava o orgulho e a ambição de um país. Naqueles imensos quadrados, a água escorre exatamente igual às torres quando vieram abaixo. As crateras no chão parecem ter sugado os prédios, causando a estranha impressão de que ainda estão vivos sob o solo. É uma visão enternecedora. Detalhes bobos parecem ironizar a tragédia. A data 11 em si já forma duas torres. A história brinca com o homem e com o seu poder, afinal, tudo tem seu preço. Mas há preço que pague a perda de uma vida? "Aqui se fez, aqui se paga", não é assim? Longe aqui querer julgar as vítimas merecedoras do seu destino. Ninguém merece sofrer as consequências dos atos alheios. Contudo, uma vez representado como parte de um todo, toda ação de um, repercute uma reação em escala. E não muito atrás, numa data não tão lembrada quanto o 11 de setembro, mas com resultados em proporções bem maiores, os Estados Unidos lançaram sem nenhum remorso uma bomba atômica sobre  milhares de inocentes na cidade de Hiroshima no Japão, e não satisfeitos, repetiram o ato em Nagasaki três dias depois.

Mais do que culpa, responsabilidade ou joguetes de toma lá, dá cá, é de vidas humanas que se discute. De humanidade por parte de quem se torna insensível ao sofrimento alheio de posse do poder. As cerimônias e homenagens aos 10 anos dos atentados aos Estados Unidos e às 2.996 vidas perdidas devem ser celebradas sim, em respeito às vítimas. No entanto, não se pode transformar esse ato em um espetáculo gratuito, que só enaltece a hegemonia americana e os torna vítimas do considerado maior ataque terrorista da história, esquecendo que só em Hiroshima mais de 140 mil pessoas morreram, sem contabilizar os que foram vitimados no decorrer dos anos devido a exposição à radiação. Os alvos à época, não foram escolhidos aleatoriamente, partiram de interesses militares e sobretudo político-econômico, já que as cidades atingidas eram as mais desenvolvidas industrialmente no Japão, e com o fim da Segunda Guerra, o país seria a única potência capaz de desequilibrar os interesses americanos. A conquista do poder.

É importante destacar também todos os conflitos que assolam o Oriente Médio há séculos, antes, e depois com a interferência da política internacional americana. Incontáveis vidas destruídas em nome de uma força maior. Todavia, seria equivocado afirmar que a liderança do poder é necessariamente algo tão maléfico assim. É um comando que existe para diversas finalidades. Utilizada para fins pacíficos e de equilíbrio sócioeconômico-ambiental, os resultados podem ser favoráveis e benéficos para o progresso da humanidade. No entanto, enquanto o homem buscar no poder a eterna satisfação do seu bem-estar, anulando qualquer possibilidade filantrópica, a tendência é a continuidade de atentados pelo mundo, espalhando o medo e o pânico na população, arrasando nações e destruindo mais vidas inocentes. O poder é a maior arma que a humanidade possui. É ele quem determina a relevância de um fato e o alcance de seu impacto no mundo. Talvez por isso, apesar do número mais reduzido de vítimas do 11 de setembro, ele será sempre mais lembrado do que todos os conflitos no Oriente Médio e até mais que os cogumelos atômicos que devastaram as cidades japonesas. Quem detém o poder, detém também o destaque e a atenção do mundo à sua dor.

4 comentários:

  1. Muito,muito bem feito o post.
    Ainda nao vi as últimas reportagens sobre as torres gemeas.Correndo atrás de alguns papéis.

    Há 66 anos atrás...Sem palavras.Vi um documentário sobre a bomba de Hiroshima e fiquei sem palavras.
    Abraços,menino.

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  2. concordo com vc e mesmo asim nao que esquerçam 11 de setembro mas tambem muitos lugares tambem deve lembrar de tantos barbaridades,mas mesmo assim ainda confio no mundo melhor, adorei seu texto como sempre araza continui assim xero.

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  3. eu tava concordando com tudo até o último parágrafo. "guerrilhas assolam o Oriente Médio há séculos"? não estou sabendo disso não.

    mas parabéns pelo blog.

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  4. Talvez tenha me expressado mal mesmo, Foxx, quis me referir a todos os conflitos que existem na região, principalmente étnicos em Israel, que constam sua origem ainda nos relatos bíblicos. Mas dei uma mexidinha lá pra ficar mais claro.

    Obrigado pela visita!

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