domingo, 18 de setembro de 2011

Cai o pano

Escrevi esse texto no fim de julho, mas por alguma razão não o publiquei. Considerei-o piegas demais ou não quis compartilhar meus sentimentos e ele ficou entre os rascunhos. Hoje ao reler não me pareceu tão ruim assim e aqui está:


Os mesmos passos de antes subindo os batentes, a mesma direção, os mesmos movimentos. O fim de mais um dia, não fosse a certeza que esses últimos passos fecham um ciclo. Não mais aquela portaria, não mais as escadas, o cansaço pelo corrimão, não mais essas paredes que me foram companhia em incontáveis episódios. E no entanto, tudo parece uma finidade perpétua. Consigo olhar o quarto que me foi abrigo e tempestade, e consigo fixar em minha memória que serão os últimos instantes de uma agradável e dolorida lembrança do passado. Mas não fossem as caixas espalhadas pela sala, as camas e os armários desmontados, o vazio do caos, eu poderia jurar que tudo continuaria como está. Não faço ideia da dimensão que a minha atitude pode alcançar. Do oco que me deixará abandonar um espaço onde vislumbrei alguns dos momentos mais significativos dessa jornada. Mas creio estar preparado para o por vir.

Não quero falar do que passou, mas do que fica. Daquilo que carrego independente dos móveis e eletrodomésticos. Ao penetrar uma cidade desconhecida seis anos atrás, sem amigos, colegas e poucos conhecidos jamais poderia imaginar quão grande minha rede de contatos poderia se transformar. Depois de vegetar três anos em uma faculdade que a cada dia arrancava um pouco de minha essência, resolvi agir me matriculando no curso de teatro. E essa foi realmente uma das melhores decisões que já tomei em minha vida. Ganhei não só o fôlego de volta, como uma nova família. O teatro é extasiante! Descobri nesse pouco tempo de experiência, o verdadeiro valor de representar, e acredito que descobri a linha que mais condiz com os meus ideais e habilidades, o que não garante que irei seguir. Por muitos anos me perguntei se deveria ter escutado a opinião do meu pai que Artes Cênicas tinha muito mais a ver comigo que Jornalismo. Hoje não tenho a menor dúvida que fiz a escolha certa no momento. Sempre acho que ninguém cruza o caminho de ninguém sem uma razão, embora no momento possamos desconhecer completamente.

Com a mesma convicção que decidi trocar Natal por Campina Grande, e percebi o momento de agir ao entrar no teatro, vejo que chegou a época de tomar novos rumos, e se isso significa deixar algumas conquistas para trás, será o preço a pagar. Sou um espírito livre, sempre fui. Nunca me imaginei preso a nada. Embora criado em uma bolha, sempre ansiei transpor os mais distantes limites. Gosto dos recomeços, das mudanças - principalmente se forem radicais. Gosto de descobrir o novo, e de desistir também - de preferência de última hora - a sensação de autonomia é inigualável. Sou um pouco metódico em organizar minha vida por fases, acho que consigo assimilar melhor separando "em pastas" a minha infância, adolescência, fase cursinho, universidade, teatro... para recordar com maior facilidade as lembranças. E o mais curioso de tudo é que mesmo curtindo a fase atual, sempre busco um ponto final para deixar o gostinho de retorno no ar. Aquele velho ditado: "o que é bom dura pouco", costumo seguir à risca.

Assim, Campina Grande vira mais uma notável página da minha vida. E como Natal, a incerteza de voltar um dia se mistura com a saudade. Olhar o apartamento preparado para me deixar é mais forte do que poderia supor. E não é ele quem vai me deixar, sou eu quem irei abandoná-lo. Se bem que o vendo todo bagunçado assim, aos poucos já não vai parecendo o palco da minha vida. Ele já não me pertence mais, ou eu já não pertenço aqui. Somos dois personagens de uma tragicomédia de muitos atos. O mais tenebroso de tudo é que um ato sempre leva a outro, e a peça vai a cada cena se aproximando mais do seu fim, até chegarmos ao último ato e as cortinas se fecharem de vez. Campina, dinamérica, 263B, TMSC, Sesc, UEPB e todos os personagens que contracenaram comigo nessa esquete da vida, saibam que vai embora comigo um pouco de vocês, e creio que ficará um pouco de mim por aqui também. Todavia, não se esqueçam que quando uma cortina se fecha, é sinal que ela pode se abrir novamente a qualquer momento e o espetáculo recomeça.

7 comentários:

  1. boa meu caro adorei seu texto nossa quando começei a ler quanto mais lia mais vontade me dava de ler e de nao terminar, nossa gostei me deu vontade de chorar mas e a vida, tudo passa mais uma jornada na nossa vida, agora sao outroas pessoas outros lugares,mas vc esta de parabens desejo boa sorte que Deus acompanhe e te lumine mais com sua sabedoria que vc e bom dimais xero.

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  2. Ah,agora entendi sua ausencia aqui.

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  3. Sempre li seu blog e tb me assustei com seu sumiço da rede, mas hj vejo q foi por motivos importantes.

    A vida é assim msmo: mudanças e alterações que nos parecem complexas, mas no fundo sempre são positivas.

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  4. gente, vc morava em natal? eu tb! =O

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  5. Pois é, Foxx, morei. E parece que já faz anos-luz. rs

    Valeu por linkar. Talvez tenhamos histórias pra compartilhar. = ]

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  6. e onde vc ta no momento fazendo oq ???

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