terça-feira, 12 de abril de 2011

A safra da vez

Há muito deixei de criar expectativa com a estreia de alguma telenovela na Rede Globo ou em qualquer outra emissora. Não sei se posso considerar perda de criatividade, saturação do modelo no mercado ou mesmo mudança de hábito dos telespectadores. A grande interrogação se deve ao fato de muita gente concordar que não se produzem mais novelas como antes. Mas não sou tão radicalista a esse ponto. Talvez se grandes sucessos como Beto Rockfeller, O Astro ou Tieta fossem lançados hoje não surtissem o mesmo efeito. A exemplo de Irmãos Coragem, Anjo Mau e Pecado Capital que bateram grandes índices de audiência na primeira versão e não emplacaram na segunda. Em contrapartida temos também Mulheres de Areia, A Viagem e Sinhá Moça que se mostraram bastante satisfatórias em seus remakes. As duas primeiras chegando até a superar o sucesso dos anos 70. Então fica difícil jogar toda a culpa nas novas produções ou dizer que somente as novelas do início da televisão brasileira é que eram dignas de apologias.

O que fez de Roque Santeiro, Vale Tudo, Pantanal e Xica da Silva grandes destaques da teledramaturgia nacional? Ouso dizer que a inovação. E até por que não? A ousadia. A primeira foi censurada em plena ditadura pela sua crítica bem-humorada ao fanatismo religioso e implicitamente ao regime militar em vigor na época. Já a trama de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères não teve medo de mostrar uma filha capaz de passar a perna na própria mãe em nome da sua ambição. Sem dúvida alguma, os mitos e segredos do mato e as paisagens exuberantes, totalmente opostas ao mundo urbano e agitado dos folhetins vigentes até o momento, fizeram de Pantanal a maior audiência de uma telenovela não produzida pela Rede Globo desde que o império de Roberto Marinho se consagrou. E o "atrevimento" de uma escrava que queria ser rainha nas Minas Gerais do século XVIII, com toda pompa, capaz de escandalizar a sociedade hipócrita da época com suas mais inusitadas peripécias, conquistou o país e marcou o nome de Taís Araújo como a primeira protagonista negra da história da televisão brasileira.

Partindo do pressuposto da inovação, seria errado pensar que toda obra que vai contra a maré tem mais chance de obter um grande êxito. É só lembrar fiascos recentes como o faroeste retratado na Bang Bang de Mário Prata e o grande reality show de Bosco Brasil em Tempos Modernos. Mas aí encontramos no caminho a clássica Que Rei Sou Eu?, que transportou os telespectadores para o período da Revolução Francesa, e com humor, bruxaria e combate conseguiu registrar sua passagem com bastante esplendor; e ainda a república das bananas na década de 50 com a irreverente e por momentos surrealista Kubanacan de Carlos Lombardi, que apesar de uma boa audiência, foi para muitos um projeto fracassado. Dá para perceber por aí que não basta querer inovar, é preciso saber como. Não à toa Glória Perez é a novelista que mais se destaca nesse quesito, trazendo sempre à discussão temas polêmicos e culturas desconhecidas do grande público, como o universo cigano e o islamismo. Em algumas tentativas acerta como Barriga de Aluguel e O Clone, e em outras como Explode Coração e América fica a dever.

Inevitavelmente, assim como na moda, as telenovelas também sobrevivem de ciclos, que vez por outra retornam. Provavelmente muitas tramas alcançaram o sucesso por virar a página no momento preciso. Se Pantanal quebrou o círculo de novelas urbanas e implantou na Globo o cenário rural com Renascer e O Rei do Gado, esse mesmo esquema saturou em Terra Nostra. Assim como as novelas de época se mostraram um ótimo filão para o horário das seis em O Cravo e a Rosa, e já chegou sem gás a Desejo Proibido. E ainda a temática espírita implantada em Alma Gêmea, que trouxe a segunda reprise de A Viagem, o remake de O Profeta, e a pincelada de Elizabeth Jhin pelo tema com Escrito nas Estrelas.

O que parece acontecer hoje com autores como Walcyr Carrasco, Aguinaldo Silva e Gilberto Braga é que eles estão há algum tempo em um território que ainda não se definiu qual é. As histórias não envolvem, não empolgam e quando pensamos que algo interessante está por vir, somos novamente decepcionados com a ausência total de originalidade. Não vou nem me estender ao ibope cada dia mais baixo, porque vejo isso como um processo natural, principalmente com o aumento de acesso aos canais pagos. Mas se vivenciamos uma fase improdutiva da telenovela, talvez tenha chegado a hora de virar a página mais uma vez. A estreia de Cordel Encantado ontem me surpreendeu e parece sinalizar essa mudança. Uma história como há muito tempo não se via na televisão. Baseada na literatura de cordel e com uma trama bem costurada já no primeiro capítulo, reis e cangaceiros se cruzam e prometem no mínimo prender os telespectadores por mais alguns capítulos. Só espero que seus personagens não se percam no decorrer da trama e que sua chegada abra novamente os caminhos para uma safra de produções originais e instigantes, que ainda é possível vivenciar na teledramaturgia de hoje.

7 comentários:

  1. Também gostei muito dessa nova novela. A Globo tá levando o padrão das séries que vem lançando pras novelas.
    Isso é legal!
    Espero que outras surjam pelo caminho.

    Gostei do seu espaço!

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  2. eu tambem gostei tomara que va assim ate o fim, porque as vezes vai bem e depois fica ruim, mas ta boa.

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  3. Ainda nao vi Cordel Encantado.

    Falando em novelas...
    Essa novela nova do Walcyr é uma mistura de Chocolate com Pimenta + O Cravo e a Rosa.Faria sucesso como novela das 6.

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  4. Lobinho, me tira uma dúvida.
    Vcs têm acesso a programação atual da Rede Globo aí no Japão?
    Pensei que a Globo Internacional tivesse uma grade de programação diferente.

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  5. Vamos por parte.Para cada regiao do planeta,há algumas diferenças.As 18 hr,começa a novela das 6 do Br(no caso Cordel Encantado iniciou no msm dia q vc escreveu esse post),novela das 19 hr q é a do Walcyr.Em seguida,tem o JPTV(telejornal feito para a comunidade brasileira do Japan),JN e a chata da Insensato Coraçao.Quase tudo q passa na Globo,passa aqui tb.
    Alguns programas sao ao vivo:JN(passa ao vivo de manha e reprise a noite),Jornal Hoje (de madru,raramente vejo).

    A programaçao dos EUA é um pouco diferente da nossa.Sei pq tenho amigos q moram lá.Novelas e telejornais tem em todas pq o brasileiro q mora fora quer saber notícias da Pátria.Ah,GI é o knal mais caro que tem aqui(um roubo).

    Ah,temos tb a Record Internacional.kkkkk.Vc acredita q tem a versao Fala que eu te escuto nas madrugadas da vida?É transmitido pela Igreja Universal de Hamamatsu(cidade onde tem muitos brasileiros).Nao sou assinante,mas nos feriados,eles liberam a transmissao.
    Abraços.

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  6. Ah,esqueci de falar.Vejo alguns pedaços dessas novelas.Vi uma cena da novela q foi gravada aqui pero do Fuji San.Essa parte q ir ao templo e pedir conselho nao existe.Os japas só vao ao templo para pedir dinheiro e ganhar em Pachinko(cassino).

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  7. Oi,sumido.Sentindo falta dos seus posts.Tenha uma feliz Páscoa!
    Abraços.

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