sexta-feira, 11 de março de 2011

Onde habita a intimidade?

O que é mais íntimo numa relação? Um beijo na boca ou o ato sexual de fato? O que desperta mais prazeres e sensações pelo corpo? É possível alguém chegar ao orgasmo apenas com um beijo? Mas não seria um beijo qualquer. Seria 'aquele' beijo! Existe ainda a famosa "lenda" sobre os profissionais do sexo não beijarem seus clientes para evitar intimidade. Mas que tipo de intimidade estamos falando afinal? Quer relação mais íntima do que compartilhar o próprio corpo com outra pessoa? Bem, esse é o ponto de vista moral quando associamos intimidade às partes do corpo que não costumam ser vistas no dia-a-dia. Entretanto, se transferimos esse critério de aproximação para o lado afetivo de cada um, as relações íntimas vão depender do estágio de entrega emocional que uma pessoa consegue extrair do âmago da outra. Nesse caso um beijo poderia causar bem mais estrago do que uma bem sucedida cópula.

Na falta de sono numa dessas madrugadas, resolvi assistir um filme pela internet. Um garoto de programa e sua noite de aventuras em um prédio. "Strapped", amarrado em inglês, nos convida a conhecer a vida de um jovem à medida que ele adentra em uma noite de prazer e dinheiro em meio ao desconhecido e muitos pseudônimos. Não sabemos onde habita o verdadeiro ser que circula pelos corredores vazios à procura de grana. Mas aos poucos, entre um cliente e outro que arranja ao acaso, é possível ir penetrando no autêntico território desse personagem. O seu envolvimento é sempre sexual, como uma máquina preparada apenas para satisfazer o desejo do próximo, enquanto se mantém na maioria das vezes distante das emoções alheia. E uma vez feito, se veste e parte para outra.

O detalhe curioso acontece já no fim de sua maratona pelo prédio, quando seus olhos quase vencidos pelo sono e seu corpo cansado de praticar todas as modalidades de sexo com os clientes, o jovem se depara com um rapaz que lhe faz um único pedido em troca do valor que ele conseguiu durante toda a noite: um beijo na boca. Contrariado, ele até tenta argumentar que não beija em serviço, que o seu trabalho é sexual e não afetivo. É aí então que o outro elabora uma explanação genial. Olhando fundo nos olhos do garoto de programa, ele diz que não quer ser tocado nos seus órgãos sexuais, não é sexo que ele precisa no momento, ele quer ser tocado no coração, e quer que o outro esteja presente com ele no momento. Convencido mais pelo dinheiro do que pela argumentação, o rapaz aceita, a princípio receoso, mas termina por se entregar e depois de um intenso, longo e extasiante beijo, atinge o orgasmo sem nem ao menos tocar em seu pênis.

Há quem diga, "ah, é filme". Mas será que alguém já tentou? Estamos acostumados a associar prazer e orgasmo diretamente aos órgãos sexuais, mas muitos não se atentam para o fato que outras regiões do corpo humano podem produzir efeitos semelhantes de maior, menor ou igual intensidade. E as pessoas que sofrem danos na coluna vertebral e perdem a sensibilidade abaixo da cintura nunca terão mais prazer? O filme que a princípio parecia não dizer nada, me chamou a atenção pela minúcia e sensibilidade que tratou a relação de intimidade entre duas pessoas, além do sexo. Enquanto simplesmente realizava seu trabalho proporcionando deleite nos outros, o rapaz não se envolvia e não estava junto na relação. No momento que dividiu um beijo passou a sentir o outro e se deixou levar pelas sensações que aquela experiência mútua produzia.

Daí me questiono onde está o maior grau de intimidade numa relação a dois. Será que o corpo tem mais domínio que o sentimento nisso tudo? Existe um maior que o outro ou ambos se completam? Só a relação sexual torna duas pessoas mais íntimas do que aquelas que apenas se beijaram? Talvez seja mais fácil jogar com o corpo do que com a emoção. Não digo que o beijo possa proporcionar mais prazer que o sexo, com verdade e afeição um pode levar ao outro, ou não, mas que nessa ligação de intimidade, o segundo ganha na categoria de melhor fotografia, enquanto o primeiro leva a direção de arte.

7 comentários:

  1. Nossa, esse texto é bem profundo e ao mesmo tempo reflexivo. Adorei Sam.

    Abraços.

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  2. nosso corpo e como uma maquina quando ta tudo bem, tudo se encaixa, quanto o beijo na boca tem pessoas que tem que ser beijo na relaçao se nao nao rola, mas tem que ter algo mais pra da esse prazer, e muito dificil o ser humano, adorei esse texto meio profundo, mas bom de debater.

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  3. Hummm... Podemos discutir essa problematica pela visão filosofica de Gilles Deleuze kkkkk brincadeirinha! Mas em relação a sensações do corpo, acabei descobrindo essas diferentes formas de sentir prazer, sem apenas ser pelo sexo, com o teatro, onde nao só descobrir novas sensações com o corpo como tbm explora-las. E Sim! Já cheguei ao orgasmo com um beijo! Mas enfim, vc ta reflexivo q eu q faço filosofia. Cuidado pra nao se debandear pra lá hein? rsrsrs

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  4. Sam, a regra é para enviar para 12 blog. Estou com um problema no meu computador. n está salvando nada que estou postando. Só estou dando uma passadinha rápida num momento de folga aqui no trabalho. não tenho como escrever aqui. É muito doido a realidade nas escolas públicas.Quando a gente chega não para. Hoje fui eu que abriu a escola. Um abraço

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  5. Sam, hoje fui olhar as postagens antigas e o q postei em março tá lá em janeiro, ou seja ars regras para o selo que te mandei tá em janeiro logo depois do post sobre o livro de Ingrid Bitencourt. Acho que as coisas aqui no meu pc estão meio bagunçadas. Abraços.

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  6. Bacana sua abordagem, proporciona uma reflexão sobre certos aspectos dessas idéias que são um certo 'senso comum' pra nós, mas que poucas vezes questionamos sua real relevância.

    Abração!

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