quarta-feira, 9 de março de 2011

E no fim... as cinzas

Quarta-feira de cinzas! Para muitos ainda uma extensão do feriadão de carnaval. No Rio de Janeiro a apuração das escolas de samba. De certo modo a vida vai se encaminhando à normalidade. Há quem acredite que o ano começa pra valer agora. Porém, uma curiosidade assolou meu juízo esses dias. Não que já não houvesse perturbado antes, mas resolvi pesquisar e ainda bem que nossa amiga internet está sempre a postos para nos esclarecer qualquer dúvida. Por que o carnaval acompanha sempre a data da quarta-feira de cinzas? E por que uma festa tão espalhafatosa, colorida, com direito a bebida e nudez gratuita estaria associada a uma data religiosa? Foi aí que tive que investigar o sentido das cinzas na religião católica. A partir dessa data, onde as cinzas simbolizam um convite à reflexão sobre a efemeridade da vida humana, dá-se início a Quaresma no calendário cristão ocidental, ou seja, quarenta dias antes da Páscoa, sem contar os domingos. E como a cerimônia da Páscoa é realizada sempre baseada na primeira lua cheia após o equinócio de outono no hemisfério sul, quando o dia e a noite tem a mesma duração, sua data transita entre março e abril.

Até aí tudo tranquilo. Mas onde entra o carnaval no meio disso tudo? Para entender, é preciso saber que o período da Quaresma é reservado a reflexão, a conversão espiritual e ao jejum, um momento no qual os fiéis se aproximam de Deus em busca de um crescimento espiritual, ou seja, nada de festas e badalações. Não que todos os católicos levem esse ritual ao pé da letra, mas quando a Igreja Católica implantou a Semana Santa no século XI, algum engraçadinho achou esses quarenta dias de privação muito longo e resolveu que os dias que antecedem a quarta-feira de cinzas deveriam ser marcados por muita festividade e animação, para compensar mais de um mês de penitência. Daí surgiu o carnaval. E ao contrário do que muitos pensam, o carnaval não é uma festa genuinamente brasileira, constatando que quando ele apareceu, o Brasil ainda era um mundo conhecido apenas pelos indígenas em seu habitat natural.

Nos carnavais de outrora havia muita comida, bebida e grandes celebrações numa busca incessante dos prazeres. A animação durava sete dias pelas ruas, praças e casas da Roma Antiga. Atividades eram suspensas, escravos ganhavam liberdade provisória, pessoas trocavam presentes, reis eram eleitos por brincadeira e comandavam cortejos, e as fitas que amarravam os pés do deus Saturno eram retiradas num convite à folia. Quando o período do Renascimento chegou, o baile de máscaras, as fantasias e os carros alegóricos foram incorporados às comemorações. Assim não fica difícil perceber o destino que essa festa tomou ao longo dos tempos. Paris foi a principal cidade no século XIX a exportar o modelo carnavalesco conhecido hoje. E o Brasil ganhou o mundo com sua fama, quando o Rio criou o estilo dos desfiles de escolas de samba, tendo entrado já para o Livro dos Recordes como o maior carnaval do mundo.

Dessa maneira, caro leitor, é que fiquei sabendo porque essa tradicional festa está sempre mudando de data entre os meses de fevereiro e março, e porque acontece sempre antes da quarta-feira de cinzas. Provavelmente essa minha descoberta não seja novidade para muita gente, mas ainda assim achei que deveria compartilhar com aqueles que como eu se questionavam o que a Sapucaí tem a ver com a missa. Agora faz sentido tanta algazarra nas ruas e no fim... as cinzas. Movidos ou não pelos sentimentos de reclusão e retiro espiritual do período que segue a Quaresma, as pessoas começam a se dedicar de verdade a seus afazeres e esquecem as festas que tiveram início ainda no natal do ano anterior. O ano verdadeiramente tem início. Se o carnaval fosse em junho então, o ano seria literalmente dividido ao meio. Agora preparados para o jejum das folias e a entrega à conversão desejo a todos um feliz 2011!

6 comentários:

  1. Legal seu texto Samuel... eu adorei... tbm era como vc não sabia esse significado! bastante interessante!!! parabéns!

    beijos da sua prima,

    Larissa

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  2. Olá Sam, muito interessante esse texto, tbm não sabia dessas origens. É sempre bom conhecer mais sobre as práticas que permeiam no nosso mundo. Adorei seu blog.

    Abraços

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  3. eu tbm nao sabia, bom saber adorei seu texto.por isso que sempre vou no seu blig adoro.

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  4. É muito bom termos essas dúvidas e buscarmos os esclarecimentos, descobrimos coisas muito interessante. Tudo tem um porque e para que. Na Bíblia encontramos que em determinadas situações o povo cobria a cabeça com cinzas em sinal de tristeza e arrependimento, mostrando que nada eram senão pobres pecadores e como tal foram tiradas do pó.
    O número quarenta representa várias situações, tais como: A passagem dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha e o mais importante os quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, mostrando para a humanidade que todos são capazes de passar por tentações e superá-las e então a Igreja propõe esse período de "deserto", isto é, momento de ficarmos à sós com nós mesmos, de repensarmos como está nossa situação de vida.
    Seria muito bom que depois de uma festa tão profana como é o carnaval, todos se recolhessem e meditassem na vida, e se aproximassem mais de Deus.

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  5. Oi Sam, fazia dias que não passava por aqui, estava sem net, meu pc reivindicou férias,agora voltei para dizer que tem um Selo para vc. Prêmio Sunshine Award. Passe lá. É só pegar. Abraços. Tava com saudades daqui.

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  6. Sempre gosto de vir ao seu blog ler suas postagens... muito bom! Agora ja sei o pq das cinzas... se bem q ate na quarta de cinzas ainda continuam na fuzaca....

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