terça-feira, 8 de março de 2011

Assumo a culpa

Alguém em um determinado momento da história do mundo estabeleceu que a culpa é algo pecaminoso e que devemos sempre arremessá-la no tambor de lixo mais próximo. Ninguém nunca quer ser o responsável por quebrar o vaso de porcelana da vovó, bagunçar as ferramentas do pai, arranhar o cd do irmão, perder o livro predileto do amigo ou esquecer de passar na padaria. "Não, o vaso caiu sozinho", "eu nem cheguei perto das ferramentas, deve ter sido meu irmão", "eu te devolvi o livro, não está mais comigo", "você não me lembrou dos pães". Por que a culpa é sempre alheia? Por que não dizer que quebrou, mexeu, esqueceu, perdeu ao invés de ficar buscando algo ou alguém como responsável por uma situação que foi gerada unicamente pela própria pessoa? O medo de falhar, de assumir os erros e vacilos diante do outro? Não somos seres dotados de perfeição absoluta, errar é tão humano que já virou clichê, no entanto, assumir esse erro aos olhos do outro é uma atitude dignamente humana.

Desde criança já aprendemos a apontar o outro como culpado de qualquer erro que cometemos. É o medo da bronca e repreensão dos pais, ou às vezes até da chinelada. Estamos prontos a qualquer momento para fazer uso desse instinto natural de defesa quando nos sentimos ameaçados. Crescemos com o conceito de que se alguma merda aconteceu, a culpa é de alguém ou de alguma burrada que o outro fez, e nunca nossa. Há quem até opte por deixar suas decisões nas mãos alheias para no caso de cometer uma escolha errada, ter quem apontar como culpado. E de quem é a culpa afinal de tanta culpa? Como culpar quem tenta se defender em um mundo que não admite erros? Ninguém é perfeito, mas a sociedade exige a perfeição. Assumir uma falha é assumir uma incapacidade, um erro, uma imperfeição. E ninguém está preparado para esse tipo de repreensão.

Ainda hoje me deparo com situações curiosas que acontecem na minha família. Minha mãe até hoje tem dificuldade de assumir sua culpa ao menor equívoco que cometa. Está sempre preparada para culpar a maçaneta da porta, a quina da cama, o celular que descarregou, a pessoa que amarrou errado a caixa do isopor, e na cozinha sobra até para as panelas. Por vezes pergunta a minha opinião sobre algo que pretende fazer, e quando a situação desanda, de quem é a culpa? Em uma circunstância de desespero então, melhor sair de perto que faísca para todo lado. E quando inevitavelmente não consegue negar a responsabilidade do ato que cometeu, passa horas numa auto-tortura psicológica de "mea máxima culpa". E não escapei imune a convivência diária da fuga do culpado. Vez por outra me pego apontando o atraso dos transportes coletivos quando na verdade dormi demais e perdi a hora.

Será que nessas ocasiões não seria o momento de assumir a nossa culpa, parar de lamentar o ocorrido e pensar em como reverter a situação? Cada atitude nossa implica uma consequência e precisamos estar preparados para enfrentá-las. Desde um prato que escorregou da mão aos rumos que se deve tomar na vida é preciso assumir a responsabilidade. Se errou, se o caminho está difícil, é hora de mudar a situação e seguir em frente. Afinal, errar faz parte do aprendizado. E se aprende muito mais com os erros do que necessariamente com os acertos. Antes que alguém tenha a oportunidade de nos olhar e nos lançar seu dedo indicador apontando a culpa por algo, levante o indicador primeiro e mostre o seu caráter e honestidade ao assumir o erro que cometeu e se dispor a consertá-lo. Não é uma postura fácil de adquirir na vida, mas agindo com verdade, alimentamos nossa força para enfrentar todas as adversidades que surgirem pelo caminho. Bom seria se desde pequeno fôssemos ensinados a não negar nossas faltas, respondendo pelas nossas culpas sem susto, pois não há porque temer as falhas, e sim a falta de coragem de enfrentá-las.

10 comentários:

  1. A maior parte de nossa conversa ta aí ne? rsrsrs... Acho q o grande problema é sim assumir q vc é falho, mas assumir isso e seguir, eu ao contrario quero concertar e demoro muito a seguir e acaba nem tenho esses acertos q tanto quero nem seguindo. Enfim, cada dia é um aprendizado hoje eu tou tento o meu! Valew Samuel! Mais uma vez iluminando meus passos!

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  2. Su, não estamos errados em tentar consertar os erros, quando eles tem consertos.
    Do contrário, é assumir e bola pra frente.
    Amanhã é um novo dia com novos erros e acertos e assim a vida segue sempre.

    Abração e grato pelo comentário!!!
    = ]

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  3. A culpa é uma sombra que nos persegue... Prefiro sempre usar "responsabilidade", onde a maioria escolhe dizer "culpa".
    Chico do YuBliss.

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  4. eu tenho sempre essa mania de por a culpa em outra pessoa, ai eu fico p da vida e fico mais resmungando quase o dia todo, e horivel seria tao mais facil se nos asumisse os erros mas nao, a desse geito meu caro, adorei seu texto diz toda realidade valeu.

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  5. Muito legal Samuca...também sinto assim...aprendi a culpar e a me sentir culpado quando não deverira...´Faz-se necessário uma reeducação diante da culpa...E DE QUEM É A CULPA MESMO???

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  6. Acho que a culpa é nossa, de forma coletiva ou individual, somos os culpados. Julgamos os outros, e também cada um se julga, as setenças são as mais variadas, entretanto não julgamos a participação de todos em nossas culpas pessoais, e nem a nossa parte na culpabilidade de todos. Sei lá...

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  7. De quem é a culpa????
    A culpa é de Adão, rsrs. Lá no Éden ele provou do fruto proibido por vontade própria e quando foi descoberto não assumiu e culpou Eva que culpou a serpente, e ai não só herdamos a semente do pecado dos nossos antecessores, mas também a mania de culpar aos outros por nossos erros. Acabei de culpar o Adão. rs.

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  8. rsrsrrs Ah, adorei sua explicação, Luziene! Como não havia pensado neles antes? Realmente devemos ter herdado isso de muito longe mesmo!!
    rsrs = ]

    Abração!!

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  9. Sou o oposto desse texto... eu sempre acho que a culpa é minha... sempre me sinto culpado por tudo... quero carregar o mundo nas costas. :/

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  10. Nem um extremo nem outro, Tiago.
    Nem ausentar a culpa, mas também não querer assumir a dos outros.
    É preciso saber distinguir até onde a responsabilidade de cada um vai e onde começa a paranoia ou a baixa auto-estima.

    Grato pela sua opinião. = ]

    Abraço!!

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