sábado, 19 de março de 2011

Alimente o meu ego

Sempre queremos mais! Queremos ser alguém. Queremos ser vistos. Queremos mostrar. Queremos ser! De todas as características da personalidade humana, o ego é aquela capaz de abrir uma fenda na estrada tornando a passagem inacessível. Somos escravos do espelho, e não apenas o de vidro, mas o narcisismo presente em cada um em diferentes intensidades. Sentimos a necessidade do elogio alheio, do incentivo amigo, do carinho do próximo. Como sabemos, alguns afagos faz bem ao ego. Eis o intrépido ego! Nada de mau buscar nos olhos dos outros o mérito por algo realizado. É uma carência humana a busca constante pela própria superação, desejar ser relevante na vida de alguém. Um arquiteto já disse uma vez em uma palestra que até um tijolo quer ser mais do que ele é, afinal, nenhum tijolo foi feito pra ser apenas um tijolo. E onde podemos chegar, quantos edifícios seremos capazes de erguer, vai depender do quanto deixamos que esse traço da nossa personalidade determine o nosso alicerce.

Se o ser humano busca sua importância no mundo, seu nome reconhecido ou até imortalizado, por quê não?, nada mais vinculado ao ego do que a fama. O reconhecimento público que pode ir do porteiro do prédio a um monge do outro lado do planeta, pode gerar mais estrago que uma úlcera no duodeno. Não é difícil ganhar notoriedade nos dias de hoje e conquistar um número razoável de admiradores pelo mundo. É só analisar a quantidade de celebridades instantâneas que surgiram do nada e ganharam fama nos últimos anos, muitos motivados apenas pela perda do anonimato, sem qualquer conteúdo para acrescentar ou oferecer ao público. O Big Brother Brasil é a mais influente fábrica desse artigo, porque transforma anônimos em celebridades a cada ano. Há uma necessidade alucinante pelo reconhecimento, ludibriado pelo glamour que essa exposição representa na sociedade e na vida de cada um.

E por que cada vez mais pessoas partem em busca desse estrelato? É só a fama, a perseguição dos paparazzis e a participação nas colunas de fofocas? De certo não. Depois de assistir ao filme de outra celebridade autogerada na mídia, Bruna Surfistinha, pude refletir melhor acerca da situação. Não é a notabilidade que faz tantos buscar a fama. É a necessidade de ser amado, de se sentir querido e idolatrado por inúmeras pessoas. Inacreditável concluir que um dos maus do novo século é a falta de afeto ou a demonstração dele. Num universo cada dia mais individualista, é paradoxo pensar que o alimento do ego está na doação alheia. Eis aí mais outra ilusão desse status: a adoração gerada pela calorosa multidão de fãs não cobre a carência afetiva que cada um necessita. Só neutraliza temporariamente os efeitos da escassez de estima; e quando esse indivíduo cai no esquecimento da frenética mídia, entra novamente na briga de ego e dessa vez com a agravante da desvalorização pessoal.

Como então conseguir ser alguém e manter a posição depois de ser exposto ao julgamento do mundo? Quem sabe não se afogando no rio de Narciso. O controle do ego é tão complicado e impreciso quanto o fluxo aéreo. Quem trabalha com arte, principalmente atores, bailarinos, cantores, pintores, escritores, entre outros, estão sempre expondo sua imagem e precisam saber dosar os tipos de críticas que recebem, os elogios ou até mesmo a ausência total deles. Quem atua, dança, canta, pinta, escreve, não quer apenas fazer o seu trabalho, quer que o outro se aproxime e descreva as sensações que aquela arte despertou. E até estar preparado e solidificado o suficiente para encarar todos os tipos de reação, um irrisório comentário pode destruir a autoestima, levar à depressão e pôr fim numa carreira promissora.

Talvez por esse despreparo muitos jovens não saibam o que fazer do futuro e se percam nas opiniões alheias. Eu mesmo. Há momentos que me pergunto por que ninguém me enxerga. Se Geisy Arruda virou história por usar minissaia na faculdade, Felipe Neto e PC Siqueira foram pra TV depois que viraram celebridade na internet, outra ganha um CrossFox por colocar um clipe no YouTube, e até um gato que parece com o vilão da série Harry Potter ganha os jornais, por que também não posso? Há instantes que queria poder erguer um caminhão com o dedo mindinho pro mundo inteiro se voltar pra mim. Ser alguém no mundo a todo custo! Mas será que vale? Será que já não sou? A popularidade não equivale necessariamente a relevância de alguém no mundo. O que queremos de fato é ser admirado pelo que fazemos, e será que a quantidade de pessoas que irá perceber esse valor é mais importante do que as reações sinceras e os sentimentos que brotarão de quem nos cerca? Provavelmente não, se nosso eu estiver em harmonia. Do contrário alguma voz vai continuar sussurrando no ouvido que é preciso sempre subir mais e mais, alcançar o Empire State, o Burj Khalifa*, o Everest e não sossegar enquanto metade do planeta não conseguir perceber e aplaudir a presença magnífica daquele ser dotado de uma necessidade exaustiva de satisfazer a sua larva interna vulcânica chamada ego.

* Maior arranha-céu do mundo com 828 metros localizado em Dubai.

Um comentário:

  1. eu penço assim pra tudo tem sua vez ,as vezes fazemos tanto e pensamos dessa vez vai, mas nao da ai começa tudo de novo, ai derenpente acontece cai na midia, ai me pergunto isso tao pouco e deu a repercurçao, entao eu falo pra tudo tem o dia ahora , mas e a vida sempre querendo mais pra mostra.Vai sempre exercisti o mundo de celebridades ,adorei seu texto.

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