terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O resto é mar

Somos movidos a quê? O que nos faz levantar e seguir uma rotina exaustiva todos os dias? Há quem diga que o dinheiro move o mundo. Somos escravos do poder das cédulas. Mas prefiro acreditar que os sonhos movem o universo. São eles que nos impulsionam, nos arrastam quilômetros e remexem nosso eu interno em busca de uma saída que há muito já sabemos onde existe. Sem os sonhos, entramos quase num automático e deixamos o corpo nos comandar a um ir e vir sem fim à espera de um fim que nunca chega. Com a exigência de um profissional cada dia mais competente, qualificado, experiente, a competição, a correria, as cobranças, somos forçados a esquecer o que nos impulsiona, e nos jogar nesse turbilhão a fim de existir. O bom de quando adentramos muito nessa zona, é que podemos chegar ao centro e parar, ficar observando o mundo girando a nossa volta, como no olho de um furacão. Só aí podemos perceber que precisamos de mais, que precisamos deixar de rodar com os outros e criar nossa própria rota.

Há muito deixei de acreditar em sonhos. O mundo pareceu mais cruel e foi conseguindo corroer todos com o passar dos anos. Pulava de galho em galho na tentativa de me agarrar a algo que me desse satisfação e ao menos que fosse capaz de me sustentar em pé. Sacava cartas da manga que poderiam me fazer virar o jogo, mas logo eram descartadas e fui ficando sem saída, sem chão. Talvez entrar no furacão fosse a resposta do enigma. Mas por esses acasos da vida, ou sinais que nos despertam por alguns minutos, uma viagem inesperada caiu no meu colo com uma piscada de olho. Desde não sei quando exatamente, eu sinto que algo me chama ao sudeste do país, especificamente ao Rio. Por inúmeras intempéries fui adiando essa ida, sonhando com a cidade e nunca a possibilidade de ao menos conhecer. Durante quatro anos na universidade de comunicação, nunca saí da minha cidade a nenhum congresso, então se eu contasse a mim mesmo que estaria em janeiro de 2011 no Rio em um congresso de filosofia, certamente eu não acreditaria.

Uma esquete que começou por render uma graninha extra para um trabalho de grupo de universidade, me rendeu um passaporte para a vida. Quando Suellen me comunica que haveria um congresso de seu curso de filosofia em Niterói e que ela estava pensando em escrever nossa esquete no seu trabalho, eu fui o primeiro a incentivar. Essa oportunidade eu não perderia. Com todas as adversidades, embarcamos nessa aventura. Dois dias dentro de um ônibus. Dormindo pouco, comendo o mínimo e pagando muito, tomando banho aqui e ali, cruzando uma Bahia sem fim, torcicolo, tudo parecia não importar quando fomos maravilhados com a vista do Cristo ainda pequeno lá no alto do Corcovado, e aqueles cinematográficos morros do Pão de Açúcar. Não havia pisado ali antes, mas como lembra Gilberto Gil, o Rio de Janeiro continua lindo.

Nem toda a desorganização do congresso, as condições do alojamento, a falta d'água, os banhos de cuia, as luzes acesas de madrugada, os ventiladores parados e o calor nos evaporando, conseguiram estragar o meu humor. Afinal, a cidade existia, e eu estava nela. Havia deixado de olhar o Rio de cima e deslocado meu eixo para dentro. A cada passo uma lembrança, uma realidade. Era a bossa nova, Tom Jobim, Manoel Carlos, tudo me acenava. Pela primeira vez numa cidade grande não me sentia perdido, onde quer que estivesse. Afinal, tinha a noção do mapa e da localidade dos bairros na minha cabeça como se nunca houvesse saído dali. Percebi com essa experiência, que os sonhos podem realmente se tornar realidade, e quando isso acontece nos sentimos em casa, como se apenas tivéssemos chegado de uma longa viagem e estivéssemos prontos para viver uma vida que sempre foi nossa. Tenho gás para voltar a acreditar que a felicidade ainda é possível.

5 comentários:

  1. adorei esse Rio, como vc falou dos sonhos ,e o sonhos pode realizar, desde que nos queremos, basta acreditar e confiar, um dia tudo se resolve com ajuda de Deus.

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  2. É bem difícil viver de sonhos. Mas vamos acreditar que ainda podemos viver movidos por eles? "Sonhos... Quem nunca teve um sonho pra sonhar? Eu sei que muitos cansam de esperar."
    Até podemos deixá-los adormecidos por um certo tempo, mas desistir nunca!
    Pelas fotos imaginei você revivendo cenas das novelas assistidas gravadas nos lugares visitados. Muito legal!

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  3. Pois é, Luziene, eu acredito que sem os sonhos a vida perde um pouco o perfume. E independente dos sonhos acontecerem ou não algum dia, é bom viver acreditando que um dia eles serão possíveis. Senão, não vale a pena viver. Somos esses seres sempre em busca de mais. Um sonho sempre cedendo lugar a outro, em busca da completa felicidade, que nunca existirá. Mas nos movendo com os sonhos temos um norte, e podemos sentir que temos um propósito maior aqui.

    Forte abraço!

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  4. Olá!tem um selo pro seu blog no meu! da uma passadinha por lá!
    obs: O Selinho é uma forma de presentar blogueiros e divulgar blogs.
    té mais!!
    http://comamusicanoradio.blogspot.com/2011/02/selinho.html

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  5. Ow Samuca... parabéns pelos textos. Vc consegue unir poesia, leveza, ideias e fatos do cotidiano no que escreve!!!

    Parabéns mesmo!

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