quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O papel do papel

O papel em minhas mãos. Seis anos após colocar os pés pela primeira vez na reitoria da Universidade Estadual da Paraíba, senti que seria a última vez ali. O curso durou quatro anos, meu dilema com a monografia mais um e meio e eis que finalmente recebo em mãos aquele papel que vai me garantir ter concluído um curso superior. No papel a reitora me confere o título de bacharel em comunicação social e outorga-me o presente diploma, a fim de que eu possa gozar de todos os direitos e prerrogativas legais. Folha bonitinha, assinatura da reitora e da pró-reitora de graduação, um espaço para eu assinar meu nome (de caneta preta), como enfatizou a senhora responsável que me entregou o diploma, e ainda me advertiu que não se "emplastifica" diploma, caso eu quisesse passar na primeira xerox, emoldurar e pendurar na parede do meu apartamento como um troféu. E olha que diploma de jornalista já teve seus dias de mais valor.

Cheguei em casa, troquei de roupa, fiz um suco de polpa de pinha, tomei dois copos, entrei na internet e só aí me lembrei que tinha de retirar o diploma da mochila e guardar. Abri o envelope, que tinha se amassado um pouco dentro da mochila, retirei o diploma, coloquei-o sobre a cama e fiquei olhando aquele papel. Analisei cada detalhe. Não como um formando estupidificado, mas com uma mente que voa além daquela página e procura entender a lógica e a mágica presente nas entrelinhas daquela folha. No centro lá no alto, o brasão da República Federativa do Brasil, logo abaixo o nome da universidade e o nome "diploma" quase que desenhado à mão; meu nome, minha data de nascimento, meu RG, a cidade onde nasci e as palavras "bacharel" e "comunicação social" em maiúsculas e em negrito. Abaixo das assinaturas, o brasão do estado da Paraíba e o logo da UEPB. Ah, e atrás ainda havia uns selinhos garantindo que o curso era reconhecido pelo decreto federal 82673 e a assinatura do chefe do setor.

Honestamente, o que eu faço com isso? Onde coloco? Mando plastificar só de pirraça com a senhora? Guardo numa gaveta, num livro? Penduro no espelho do banheiro? Talvez continue dentro do envelope. O bom vai ser não ter amnésia de onde coloquei quando um dia o procurar. De fato, esse papel não passa de mais uma folha em meio a tanto papelada que cruza nossa vida. Não desmerecendo o curso e a profissão de ninguém. Mas o que esse papel atesta além de dizer que somos formados em tal curso e universidade "a" ou "b"? Nada. Podemos adquirir muitos na vida, fazer coleções de diploma. Se não desempenharmos bem a nossa função, o banheiro é um destino melhor para esses papéis. Não somos o diploma. Somos o que aprendemos e descobrimos ao longo da caminhada. No papel podemos ser o doutor em engenharia da biofísica nuclear, mas se na prática não correspondermos ao que está escrito, já era. Do mesmo modo, outros não necessitam de títulos para se destacar.

A grande questão que quero enfatizar é o amor e a dedicação de cada um com o ofício que foi tomado como seu. Se há verdade, se há paixão, com certeza será um profissional além da folha de papel. Caso contrário, passará a vida em busca de mais títulos que o tornem o que jamais será. Como escuto constantemente dos meus diretores de teatro, não basta interpretar, tem que acreditar. No meu caso, que nunca tentei nem interpretar um jornalista o que dirá acreditar ser um, a situação se complica um pouco. Se continuar seguindo a onda periculosa da imprensa na tentativa de ser o grande repórter, traçando mais títulos que um recordista olímpico no intuito de me fazer crer nessa verdade, não dará certo nunca. Porque não serei um bom jornalista nem aqui, nem na lua. Aliás, preferiria estar lá, explorando o universo, se tivesse estudado pra ser um astronauta, ou cosmonauta, quem preferir dar crédito aos russos. Gosto de escrever, não há dúvida. Mas como diria Leporelo, o "fiel" escudeiro de Don Juan, que com seu diminuto bom senso e seu parco entendimento ver as coisas melhor do que todos, sei que me falta a desenvoltura essencial para um bom jornalista, e percebo que o que escrevo está mais próximo de Rubem Braga e Manoel Carlos do que de Heraldo Pereira ou José Marques de Melo. Portanto, vou guardar meu diploma, na esperança de um dia poder fazer uso dele. Não com a habilitação em jornalismo, mas como bacharel em comunicação que me permite escrever rios sem fim de imaginação.

5 comentários:

  1. adorei o documentario, e isso ai meu caro diploma so pra junta mas e a vida, vai enfrente tudo um dia servirar.

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  2. Parabéns pelo texto. Também me formei em Jornalismo pela UEPB e senti essa mesma sensação...

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  3. Se você passar por aqui te empresto o livro. Nas suas idas para J. Pessoa entre em Arez. Garanto que vai amar. É uma história incrivel, faça alguma coisa corro para leitura. Fiquei sem sono li até 05h da manhã. Tenho muitos outros bons. Vc vai gostar.

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  4. obrigada pela indicação do selo. Foi muito carinhoso de sua parte.

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  5. Este seu texto (igualmente a maioria dos outros) prova que você tem muito talento para a comunicação, que tem várias vertentes, jornalismo é apensa uma delas.

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