domingo, 13 de fevereiro de 2011

O estranho planeta dentro de mim

Não sei se prefiro me isolar porque não gosto de gente, ou se gosto de gente e por isso prefiro me isolar. O que importa é que costumo fazer sozinho determinadas atividades que, habitualmente, se fazem em conjunto. Ir ao cinema é uma delas. Se eu retirar a vez em que fui assistir a Superman O Retorno com minha mãe, a Marley & Eu com meu primo e a Código Da Vinci com a turma da faculdade - embora tenha chegado atrasado e tateado um lugar distante de todos da turma - eu sempre fui ao cinema sozinho. Prefiro os dias de pouca movimentação, quanto menos gente na sala melhor, menos barulho, menos celular tocando, menos reações de riso e medo, menos cochichado, menos latinhas de Coca estourando... Se pudesse reservar uma sessão particular só pra mim seria perfeito. Procuro sempre os lugares mais isolados, nem que seja colado a tela, só para não ter ninguém do lado comentando o filme ou chegando a conclusões mirabolantes antes mesmo do cérebro processar o que está assistindo.

E nada mais chato do que aquele entra e sai, porta aberta, gente chegando meia hora depois e demorando mais outra meia pra entrar na história. Não entendem que a sala de cinema não é uma extensão da praça de alimentação do shopping, onde ninguém se escuta, mas todos abrem a boca. Ou entra com o intuito de acompanhar um filme ou faça exibição de sua figura do lado de fora. Vez por outra me deparo com alguns vagalumes dentro da sala. Todo tipo de inseto acendendo suas antenas para checar a hora. Vão sair da sala antes do filme terminar? Porque do contrário, não há necessidade de ficar de instante em instante checando a hora no celular bancando o lanterninha. E outro detalhe irritante é a quantidade de trailer cada vez maior antes do filme iniciar. Outro dia teve tanto que quase acabo o saco imenso de pipoca antes mesmo de aparecer o nome da produtora do filme que ia assistir. E se por um lado exageram no começo, reduzem no final. Mal surgem os primeiros créditos e as luzes já se acendem. Alguns segundos depois já cortam o filme e somos quase expulsos da sala.

Por isso que às vezes prefiro ficar em casa, comprar um dvd ou baixar algum filme de graça e poder assistir sem nenhum aborrecimento. É quando bate aquela solidão, aquela falta de gente e vou ao shopping, de preferência sozinho, me misturar a toda aquela multidão. E aí não sei se estaria mais sozinho em casa com os meus pensamentos ou ali circulando ao lado de todas aquelas pessoas. Estou para descobrir outro ser vivo que saia de casa para passar uma tarde perambulando solitário pelo shopping, entrando em lojas, vendo muito, comprando pouco ou quase nada, sempre comendo, ouvindo música no mp3 e observando o vai e vem dos frequentadores com cara de paisagem. Realmente é um programa anormal, típico de seres atípicos que fazem uso de alucinógenos para permanecer "on" e se manter no meio-fio ou para não despertar pondo fim à "paz social".

Apenas quinze minutos sentado em um banco qualquer do shopping, para encontrar desde o curioso às mais aberrações desse planeta. Grupinhos de adolescentes que disputam com as maracas quem faz mais barulho. Casais de namorados de mãos dadas olhando as vitrines e exibindo o outro como troféu aos amigos. Gente andando engraçado. Uma moça com o short rasgado exibindo o forro dos bolsos como quem indica a última moda. Outra num salto tão alto que até pra andar inventou um novo caminhar. De repente algumas cores ofuscam minha visão. Dois cidadãos, ou poderia chamar personagens de algum mangá que saltaram pra fora do gibi, com calças verde e amarela, tênis azul e rosa, camisa lilás e óculos quadriculado, sem mencionar o cabelo emo vazando num boné espalhafatoso. Aí eu olho do lado, tudo muito tranquilo e me sinto um alienígena no planeta dos humanos. Realmente devo ser. Não vou ao cinema com os amigos e fico no fundão, onde a maioria fica pra ver melhor, nem saio por aí com ninguém exibindo meu look Restart. Quem é mais estranho nessa brincadeira agora? De fora somos todos habitantes alheios de uma galáxia perdida na poeira cósmica, mas cada um no seu planeta e ninguém vira macaco.

5 comentários:

  1. Olá colega jornalista, gostei do desenrolar do texto, diga - me já estais escrevendo roteiro para cinema? Pois era um sonho seu, certo?

    ResponderExcluir
  2. nossa como vc e observador, vc tem cara de escritor de novela e filme porque observa tudo ao seu redor parabens escreva logo um filme ou uma novela, estou esperando pra ver, adorei o texto, amo que vc escreve.

    ResponderExcluir
  3. Amo observar as pessoas, o vai e vem, as expressões do rosto diante da vitrine ou dos acontecimentos. Pessoas deslumbradas me dão asco.Vejo pontos em comum entre nós. Prefiro também está só doque rodeada de pessoas barulhentas. Adoro seus textos, eles mim inspiram. abraço

    ResponderExcluir
  4. Sami, acho q o fato de observamos pouco, deixamos de vê de o quão somos estranhos num mundo tão normal... Experimentos várias reações ao observar, será q assim nos conhecemos mais ou talvez mostre q a gnt não se conhece nada? Fazemos parte do cenário, somos tbm o ser estranho qdo observado. Acho q a frase q melhor explica isso é "De longe somos tds normais..." Bjs primo!

    P.S. adoro seu textos

    ResponderExcluir
  5. oi, vi uma indicaçao no blog de uma amiga (lu pinheiro) e vim conferir, amei o que vc escreve, assim como a lu pinheiro,parece que vc me descreve, para algumas pessoas esta so parece ser uma coisa ruim, mais eu gosto, me sinto melhor,converso comigo mesmo.Talvez seja um pouco melancolica,mais eu sou assim.BJo, estarei sempre por aqui.

    ResponderExcluir

Colheitas