domingo, 26 de dezembro de 2010

Quando o velho som de novo

E dei pra ouvir Elis Regina. Sabe quando somos crianças que sonhamos em ter um determinado brinquedo, ficamos amolecendo os corações dos nossos pais para ganhar aquele jogo, aquele boneco, numa fixação que só passa depois que temos o rebento em nossas mãos? E aí depois que temos perdemos o interesse em poucos dias. Pois é, comigo aconteceu o contrário. Em um amigo secreto não convencional, e o que eu chamo de não convencional? Aquele onde cada um leva um presente unissex de um valor padrão e lá na hora cada qual vai escolhendo o seu, até ninguém poder mais trocar, e você ficar na dúvida se levou a melhor ou se foi sorteado com um bichinho de pelúcia ou uma caixa de bombom da Bis. Então, entre o troca-troca de presentes, acabei ficando com uma caixa que parecia conter uma camisa masculina, apesar do peso e do critério unissex já acusar que não seria. E assim no meio de muito papel picado dentro da caixa, encontrei um cd de Elis Regina.

Amigo oculto não convencional é mesmo uma grande pegadinha. Eu havia comprado um cd de Ana Carolina pensando na minha amiga Luciene, que por sua vez, havia comprado o de Elis Regina pensando em outra amiga. Resultado: nem Luciene terminou com o cd de Ana Carolina, nem Suellen com o de Elis, que acabou caindo nas minhas mãos. Nunca fui chegado nas canções de Elis Regina, mas achei interessante ter ganhado um presente que eu não compraria pra mim. Agora teria a oportunidade de conhecer melhor as músicas dessa cantora tão aclamada pelo público. Fui pra casa, coloquei o cd pra tocar e juro que tentei gostar das composições, mas as melodias me soavam muito forçadas, desconexas. Salvo algumas que já conhecia, como Fascinação, Atrás da Porta e Como Nossos Pais, não consegui pegar gosto pelas demais. O cd ficou lá entre as pilhas de cds de segundo escalão, aqueles que deixo pra ouvir quando perco o interesse nos preferidos.

E ano vai, ano vem, pensei até em me desfazer daquele elemento, dá-lo de presente a quem realmente merecia. Afinal, Suellen faria mais uso dele do que eu. Mas era um presente, e de uma amiga que hoje mora lá no Amapá, entre os índios e a selva amazônica (brincadeirinha). Ainda vou aí, Lu! Então permaneci com ele. E essa semana, dois anos depois de ter ganho o cd, resolvi colocá-lo no som e pela primeira vez pude apreciá-lo de uma maneira diferente. Não sei exatamente o que se passou, mas comecei a gostar do que estava ouvindo. E de repente pensei: puxa, isso é bom, por que não vi antes? E a cada música ia descobrindo um novo gosto, um novo estilo. Sempre achei que quem escutava Elis eram pessoas de um gosto musical refinado. Será que eu amadureci a tal ponto?

Não posso garantir que fiquei mais culto por ouvir e gostar das músicas de Elis, mas alguma coisa mudou em mim nesses dois anos para que eu pudesse rever a minha opinião sobre suas músicas. Nem que tenha sido a paciência e a disponibilidade para apreciar um estilo diferente do que estava acostumado. Talvez no momento atual suas melodias consigam chegar até mim. Como há alguns anos, a imagem de jovens que tentam mudar o mundo e no fim, apesar de todos os esforços, permanecem iguais aos pais, chegou até mim em Como Nossos Pais. Agora, depois da fase de desinteresse do presente, cheguei ao período de êxtase e de curtir adoidado, contrariando a ordem natural da ansiedade ao desprendimento na infância. Só sei que há três dias o cd não sai do som e quem passa lá só me vê escutando Elis Regina.

3 comentários:

  1. Que belo presente de Natal para os leitores do blog. E para mim , em especial, saber que Elis ainda é capaz de provocar essas reações.
    Nunca é tarde para descobrir coisas boas. Saúde, vida longa e um ótimo 2.011.

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  2. vc vem se superando dava vez mais, nessa sua fase de descobertas e mudanças.adorei saber q vc ta escutando o cd, só nao gostei da parte da " selva e dos indios".... mas ainda assim, te amo. LUCIENE

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  3. Samuel, não te conheço e, para falar a verdade, nunca comentei em blog nenhum... nem de amigos! mas o seu merece! Parabéns, você escrever tão bem! Vc tem ritmo, suas palavras nos fazem flutuar e criam imagens bonitas "de se ver".

    Obrigada por "passear comigo"!

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