quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O paradoxo do desenvolvimento

Cidade de interior, tranquilidade, pessoas nas calçadas, passarinhos cantando, vacas sendo conduzidas pelas ruas, certo? Nem tanto. Na busca pela modernização, as cidades pequenas passam a copiar determinados padrões de cidades maiores. Umas das grandes características de uma cidade interiorana é o seu calçamento, ou seja toda a malha urbana em paralelepípedo, o que de certo modo, nos associa a uma realidade distante dos agitos das metrópoles. Antes de ontem mesmo me vangloriava das pedras simples da nossa rua e agradecia por não ser asfaltada como a rua de baixo. Pois só foi eu me admirar desse fato, que ontem três carros diferentes e um trator começaram um processo de despejo de betume pela rua, provocando a admiração de todos. Sem aviso prévio, nossa rua perdera seus característicos paralelepípedos e ganhara uma pista preta, que mais me lembrava a Avenida Floriano Peixoto em Campina Grande, do que uma cidadezinha pacata do interior.

Perturbando a calmaria de outrora, e a chuva que caía até anteontem, o barulho das máquinas e o cheiro forte do asfalto me gerou uma típica dor de cabeça. A presença de toda aquela parafernália e daqueles homens circulando pelas calçadas me incomodou. Ninguém me perguntou se eu queria aquele derivado de petróleo cobrindo os singelos paralelepípedos que tornavam nossa rua mais interiorana e simpática. De repente tomei as dores de todas aquelas pedrinhas, o que estariam pensando sendo substituídas assim como qualquer coisa? O ar que percorria entre seus espaços sendo sufocados pelo alcatrão e aquecendo o solo, tornando nossa rua mais quente, mais espessa, mais industrializada, menos cidadezinha. E nem estou falando do aquecimento global que toda aquela mistura espalhada pelas ruas está contribuindo. Por que será que as pessoas não entendem que tornar uma cidade de interior mais desenvolvida não é necessariamente implantar os mesmos padrões dos grandes centros, mas expandir o que o município tem de singular, sem perder nunca sua característica charmosa de uma cidade pequena.

O percurso da malha asfáltica seguiu desde a rua de baixo, indo em direção à igreja e se encontrando na pista seguinte que dá acesso aos municípios de Coronel João Pessoa e Venha-Ver. Era a emenda final para completar o percurso que segue desde a entrada da cidade no sentido de Pau dos Ferros. Assim quem passa pela cidade vindo de Pau dos Ferros a Coronel João Pessoa segue direto pelo asfalto. Tudo bem, ligação perfeita. Contudo, não seria mais interessante deixar os limites da cidade fora do percurso asfáltico? Afinal, o município não é apenas mais um pedaço da pista, é um lugar habitado, com suas peculiaridades. E esse é o intuito a quem entra, que diminua a velocidade e aprecie os detalhes da região. Quanto mais se cuida daquilo de que a cidade tem de característico, maior ela se torna, e quanto mais semelhante à rotina e aos agitos dos grandes centros urbanos, menor ela será.

2 comentários:

  1. Fiquei lembrando o tempo da minha infância, andando por essas ruas, descendo para igreja, indo para as novenas, as missões de Frei Damião, voltando pelo beco de Leodona, escondida de tia Júlia, para ir dá umas voltas no parque depois das novenas de S.Miguel, a festa maior da nossa cidade. Ví agora eu, Vevinha,Elieuda, sentadas na calçadas com tia Josefa na porta, vendo as pessoas indo e vindo as vezes sem saber para onde estavam indo... É díficil aceitar as mudanças que se impõem na cidade da nossa infância, as mudanças que cobrem nossas raizes e nos deixam com um certo gosto de saudades. até breve... Vamos nos Encontrar em Barreta?

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  2. Ei, essas lembranças também são minhas, vivi todos estes momentos e os guardo num cantinho especial e quando bate a saudade da minha adolescência eu os revivo na imaginação e haja imaginação.
    Não vamos mais nos encontrar em Barreta.

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