quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Maktub - estava escrito

Simples, complexa, objetiva, intensa. Ainda se ouvia o murmuro da ovelha Dolly quando eu soube que a Globo ia lançar uma novela chamada O Clone. Só pelo título já seria no mínimo curioso, e ainda por ser uma novela das 8, na qual o realismo e o drama estão mais presentes, não havendo espaço para transformar um tema legal em chacotas do horário das sete ou na superficialidade das seis. Era o retorno de Glória Perez ao horário nobre, afastada desde Explode Coração em 1996. Hoje, quase dez anos após a estreia de O Clone, a Rede Globo finalmente decidiu reprisá-la no Vale a Pena Ver de Novo em grande estilo, com direito a chamadas na programação de ano novo do canal. Depois de rodar o mundo, ganhar inúmeros prêmios nacionais e internacionais, o estrondoso sucesso de Glória Perez põe fim no intenso círculo vicioso de novelinhas chinfrinhas que culminou no fiasco de Sete Pecados. Parece realmente que voltamos aos tempos em que se valia a pena mesmo rever um folhetim de verdade, com narrativas e personagens fortes que fizeram história. Só espero que essa fase renda alguns véus a mais.

É indiscutível a repercussão da novela de Glória Perez, sem dúvida alguma seu melhor momento na televisão brasileira. Mas o que fez dessa telenovela, um grande êxito no mercado nacional e mundial? Com certeza a clonagem humana foi o carro-chefe da trama, porém, a autora soube jogar esse tema com uma perspicácia e sensibilidade impecáveis. Seria muito fácil pegar a ideia de se criar um clone e elaborar uma novela em cima disso. O tema em si já é instigante. Mas 'como' ele é desenvolvido é onde se esconde todo o segredo da trama. Levar um tabu como a clonagem humana para o universo islâmico foi uma grande jogada da autora. Criar o motivo inicial para se produzir o clone em torno da história de irmãos gêmeos foi outro grande insight. E por fim, implantar o embrião clonado de um branco em uma personagem negra, amarrou a novela que seu destino não seria outro senão o sucesso.

Com uma teia de acontecimentos formada em volta de seu tema central, só seria preciso um romance a Romeu e Julieta para apimentar ainda mais a história. Lucas e Jade conseguiram criar uma história de amor tão forte que deixou os mocinhos de Terra Nostra a ver navios. Era um romance puro, ingênuo, mas avassalador e invencível ao tempo. O Clone, entre tantos assuntos, tratou da posição do ser humano diante de suas escolhas na vida. Uma das mais belas cenas mostra esse conflito, quando Lucas se olha no espelho de sua casa, deprimido com o rumo de sua vida, clamando uma chance de refazer o passado, e então seu clone Leo entra, vinte anos mais jovem, e Lucas o vê através do espelho. Seria sua chance de refazer o passado? Se vê duas décadas mais jovem e visualizar os inúmeros destinos que sua vida poderia ter tomado, faria qualquer um tentar um recomeço.

E não há como falar em O Clone sem mencionar sua magnífica trilha sonora composta por Marcus Viana, o mesmo responsável pela trilha de Pantanal, dez anos antes. A música tema de Murilo Benício e Giovanna Antonelli ganhou até versão internacional na voz de Michael Bolton. Na abertura, a banda Sagrado Coração da Terra, criada pelo próprio Viana, brincava com o poder da criação do homem ao lado de um dos trabalhos mais bem elaborados de Hans Donner. Destaque também de Lenini, com o tema de Juca de Oliveira e seu cientista Albieri, o homem que ousou brilhantemente ter o mundo em suas mãos e acordou mortal. Clonagem humana, islamismo, fé, amor, perda, desencontros, sonhos. Por todos esses motivos e muito mais é que O Clone merece ser vista a partir do dia 10, porque antes de ser uma novela sobre o avanço da tecnologia, O Clone é uma novela humana, que trata do paradigma tecnológico com o olhar e a alma de um ser humano.

2 comentários:

  1. Que a chuva da paz, a esperança, a felicidade e o amor estejam sempre ao teu ao redor! FELIZ 2001!Beijos.

    ResponderExcluir
  2. 2001/2011 anos muitos felizes
    por isso a confusão de Lobinho rsrsrrs

    ResponderExcluir

Colheitas