quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Vamos fugir!

Sempre tive um espírito andarilho. Mesmo que muitas vezes tenha me imaginado em algum lugar fixo, levando uma vida regrada. Quando criança adorava viajar, sair da minha cidade, adentrar lugarejos diferentes, e muitas vezes, a viagem em si, o passeio de ônibus parecia bem mais empolgante do que o destino final, quando eu não enjoava dentro do carro. Porém, sempre queria seguir, nunca ficar pelos novos lugares. No fundo, sair com uma mochila nas costas pedindo carona pela estrada, sem rumo, sem destino, sempre foi um desejo reprimido da minha alma. Pensar que não temos lugar no mundo pra ir nem pra voltar, que nossa estadia é aqui e ali, seguindo em frente sempre, descobrindo novos lugares, conhecendo outras pessoas, vivendo cada emoção e aventura, nos torna paradoxalmente mais donos do nosso destino. Não é à toa que eu mantive, por vezes até inconsciente, uma afinidade muito grande por filmes americanos de andarilhos, pessoas que estão sempre percorrendo de carro aquelas estradas americanas imensas e desertas. Hoteizinhos baratos em beira de estrada, postos de gasolina e fast-food.

É uma estranha e contraditória sensação, como se por aqueles fins de mundo eu pudesse encontrar um sentido maior na vida, uma saída, um recomeço. Não quero filosofar nem divagar em pensamentos confusos e solilóquios, mas a onda de bem estar que me invadia a ponto de querer me transportar a esses lugares, era como um anúncio de que a mim só o essencial era necessário. Por que quartos de luxo em um hotel em Toronto, se me bastaria um lugar simples e confortável para passar a noite e seguir caminho no dia seguinte? E uma sensação de desapego a bens materiais, a pessoas, a lugares estava sempre presente. Ainda hoje não consigo raciocinar corretamente pra entender e repassar o que sinto às pessoas. Por isso filmes como Cinema, Aspirinas e Urubus, Central do Brasil, Diários de Motocicleta, Perseguição - A estrada da morte, Vencer ou Morrer estão entre os meus prediletos.

E o que me mantém ainda aqui atado esperando que as caronas venham até mim? Compromissos que me fazem sempre protocolar esse futuro. O ensino médio, o vestibular, a faculdade, a família, a namorada, e sempre alguma tarefa, responsabilidade que me impede de viver de espírito. Hoje realmente me sinto livre de qualquer compromisso ou obrigação, posso finalmente ousar seguir os caminhos de um destino sem destino. Mas será que irei? Terei forças para assumir e seguir? O momento é agora, ou logo mais outros compromissos me prenderão. O trabalho, por exemplo. Não sei de fato o que me prende hoje, talvez a ausência de algo a me prender. Espero o momento certo. Mas esse momento é agora. Sinto que se conseguisse passar o primeiro reveillón longe de casa e da cantoria da igreja, em uma praia, uma montanha, um deserto, uma cabana, um nada no nada já seria sensacional.

Talvez eu não tenha a coragem e o dinheiro de Elizabeth Gilbert, a escritora norte-americana, autora de Comer, Rezar, Amar, que se desfez dos bens materiais, pediu demissão e saiu em uma viagem de um ano pela Itália, Índia e Indonésia. Posso sair pedindo carona, mas preciso de grana pra comer e pernoitar no mínimo. Talvez se ganhasse na loteria. Mas aí obviamente optaria por voar pelo mundo de primeira classe, hospedado nas suítes mais caras e ostensivas dos principais cartões-postais do globo. E não seria a mesma coisa nunca. Só sei que o tempo avança e a minha única carona é viver à espera de uma mudança que pode nunca acontecer. E enquanto não acontece, viajo pela estrada do logo do Celeiro, como quem cai em um sonho, onde a gente nunca lembra como começou e nunca sabe onde irá terminar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Colheitas