domingo, 10 de outubro de 2010

Tempo

Tempo! Dizem que vivo perdendo tempo, que não sei o que é bom, que o tempo corre, que eu preciso do hoje. Talvez seja verdade. O que mais terei perdido desde que vi a luz na sala de parto até os 25 anos? Gosto de pensar que vivi experiências fora do comum, que não joguei bola, mas subi em palcos, que preferia "mirabolar" histórias sozinho com os cavaleiros do zodíaco a permitir a interferência de alguém nas minhas ideias, não joguei vídeo game, mas dei vida a vidros de perfume e laços de presentes desfiados. Criei filmes com os bonecos e reprisava de vez em quando. Fiz isso até os 13 ou 14 anos quando os troquei pelos roteiros. Já senti escrevendo, a mesma sensação de quando brincava. Já deixei de lado, como quem enjoa aquele brinquedo. Já voltei a subir no palco. Já reassisti os Cavaleiros do Zodíaco e não senti o mesmo de antes. É o tempo!

Demorei a sair da infância. Será que já saí? Cheguei tarde à adolescência e mais tarde ainda saí dela. O que eu fiz a esse tempo colado a mim como uma sombra? Sonhei, idealizei, imaginei, mas não me projetei. Quis ser, quero ser, mas ainda não sou e quando serei? Nunca estou pronto e quando penso que estarei, já estive. Fujo do mundo ou de mim? A quem temo? A quem escutar? Tempo perdido sonhando ao invés de agir. Chances perdidas me subestimando. Até onde sou capaz de ir? Ir pra onde? Buscar o tempo esquecido.

Ainda não fui a uma academia. Desde os 18 ela briga comigo: "precisa definir seus músculos", "massa muscular faz bem à saúde e embeleza o corpo". É, daqui a pouco não terei mais o que definir. O tempo! Muitas outras coisas tidas normais ainda não fiz. Nem sei quando farei. Gosto de me isolar. A solidão não me parece uma prisão ou me aprisione mais do que tudo. Eu quero, desejo, anseio, mas no fundo não sei se almejo. Quero e não quero. Preciso e descarto. Alguém pode viver assim? E o tempo avança. Logo, logo, de mim é que ninguém vai mais necessitar.

Sou um labirinto cheio de túneis que levam a nada. A cada tempo construo mais passagens e a saída verdadeira torna-se sempre inexpugnável. Tô nadando contra a maré do tempo. Talvez tenha iniciado esses corredores há séculos, em outros mundos e talvez a saída esteja anos luz daqui. Sendo assim, ainda tenho muito tempo. Se nada fiz, se nada sou em 25 anos, será que farei ou serei em mais 25? Minha mãe tinha 27 anos quando nasci, meu pai 55. Eu tinha 8, 10, 11, 14, 18, hoje 25. Me arrependo de algo? Do que não fiz? Do que deixei que me fizessem? Preciso caminhar e tirar a sombra das minhas costas. O tempo é uma ilusão. Se esqueço os anos e olho pra trás como um longo dia, ainda estou pela manhã ou já cheguei ao pôr do sol?

2 comentários:

  1. Sempre passo por aqui e confesso que gosto do que tu escreves, me identifico muito com você.
    Nossa! Falar sobre o "Tempo", ah tempo! Como eu te queria de volta, como diz Fernando Pessoa: "Se em certa altura tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita; se em certo momento tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim; e em certa conversa tivesse dito frases que só agora, no meio-sono, elaboro,seria outro hoje". Infelizmente vivo apenas pensando que quero, me sinto sentada a beira do caminho apenas olhando a vida passar, quanto mais os anos passam mais me cobro por não ter feito nada e os meus sonhos de hoje serão minhas frustrações de amanhã. Sei que preciso ter atitudes, mas, porém...Fico a espera de um milagre. Eu quero ser... O que faço para ser??? Nada! Também acho que ainda não deixei de ser criança. "Sou um labirinto cheio de saídas que não levam a nada". Solidão? Acho fantástico ficar comigo mesma, com meus milhões de dúvidas e preocupações. Vida boa, vida louca,se é pra viver tô vivendo. Se aos 45 ainda não aconteceu aos 45 do segundo tempo poderá acontecer. Eu sou o meu paradoxo. Quero e não quero! rsrsrs.

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  2. Obrigado, Luziene, pela sua opinião aqui no Celeiro. É de grande importância pra mim saber que outras pessoas compartilham as mesmas filosofias de vida, sejam construtivas ou não. = D
    Forte abraço!!!

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