sábado, 4 de setembro de 2010

A Globo e os seus sete pecados




Vivemos no país da telenovela. Da maior exportadora mundial de novelas com qualidade. Uma verdadeira indústria do entretenimento e da ficção na telinha. Alguém poderia me citar ao menos uma telenovela que ficou marcada na memória? Com certeza muitas pessoas terão até mais de uma, e muitas novelas serão ditas, mas tenho certeza que ninguém dirá Sete Pecados. Então por que será que esse folhetim será a próxima atração do Vale a Pena Ver de Novo? Não dá pra entender. A Rede Globo tem atualmente mais de 260 telenovelas gravadas, grandes sucessos que correram o mundo, e é incapaz de reprisar uma trama que realmente valha a pena.

Aliás, tramas que valham a pena está cada dia mais em extinção no país. Foi-se o tempo das vacas gordas, quando se acompanhava um sucesso atrás do outro, quando era gostoso sentar diante da tv pra assistir um capítulo, se deleitar com os personagens e finalmente rever um grande sucesso depois de anos. O que nos sobra hoje são histórias monótonas, repetitivas, fatigantes, que só buscam explorar o ator ou a atriz bonitinhos e entupir as nossas veias de vácuo e merchandising.

Eu nem cheguei a pegar o início da teledramaturgia brasileira, nem acompanhei clássicos como O Bem Amado, Dona Xepa, Irmãos Coragem ou Roque Santeiro, embora tenho visto alguns capítulos da última em sua reprise. Contudo, ainda peguei o final da boa safra da emissora, e acompanhei Que Rei Sou Eu?, Vale Tudo, Tieta, Pedra Sobre Pedra, Renascer, A Viagem, Mulheres de Areia e O Rei do Gado. Claro, que telenovela é igual a música e religião, cada qual escolhe a sua, independente da opinião alheia. Então ainda consegui extrair o sumo de algumas outras no decorrer das décadas seguintes como o suspense policial de Sílvio de Abreu A Próxima Vítima, a fictícia Greenville em A Indomada e o caso Pedrinho em Senhora do Destino de Aguinaldo Silva (grande Nazaré), as Helenas de Maneco em Por Amor, Mulheres Apaixonadas e Páginas da Vida, a clonagem humana de Glória Perez em O Clone, e até o mundo irritante das Celebridade de Gilberto Braga.

Quanto ao humor não consigo deixar de citar duas novelas de Carlos Lombardi, que embora severamente criticadas, me divertiram pra caramba. Eis que falo de Uga Uga e Kubanacan, com uma "quedinha" maior pela última. A sátira a uma república das bananas na década de 50 era sensacional, acompanhado das atuações hilariantes de Adriana Esteves e Vladimir Brichta. Da Cor do Pecado entrou na minha lista por vários motivos, entre eles, a ambientação no Maranhão. Era um romance bobo com uma vilã óbvia, mas cheio de artimanhas, uma história que acabou agradando pela simplicidade.

Fechando a lista, acrescento duas tramas de Ana Maria Moretzsohn, Esplendor, ambientada no charme da década de 50, e Estrela-Guia, que apesar da crítica no fato de ser a novela de Sandy, foi uma história que nos levou de volta ao mundo alternativo dos hippies, do filme Hair, e a questionar os valores e os costumes da vida moderna. E por fim, a vida de jovens em repúblicas, em uma cidade do interior de Minas, ao lado de um romancezinho água com açúcar dos personagens centrais, me trouxe uma certa afinidade com a obra de Emanuel Jacobina, Coração de Estudante. Fora do universo global, as únicas que se sobressaem pra mim são Pantanal e Xica da Silva da Manchete e Éramos Seis do SBT.

É óbvio que entre essas novelas que citei haverá muita gente a questionar essa ou aquela, e citarão talvez outras que tenham sido relevantes ao seu ponto de vista. Entretanto, essas seleções são cada vez mais raras de fazer hoje em dia. Noveleiro desde os 3 anos de idade, pode-se dizer, hoje não acompanho mais novelas, salvo algumas raríssimas exceções, e fico tremendamente revoltado e impotente quando vejo que o único canal que poderia trazer de volta os bons tempos da teledramaturgia, se dedica em reexibir xaropes da despropositada nova safra da emissora e chamar de grande sucesso a infeliz Sete Pecados, que ainda nem começou e já devia ter terminado.

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