segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Bem-vindo ao Nosso Lar


Ontem finalmente assisti no cinema o filme Nosso Lar, baseado na obra de Chico Xavier. Desde que vi pela primeira vez o trailer, percebi que seria um grande filme, tanto pela superprodução que lembra até os filmes hollywoodianos, como pela sua temática. Venho adentrando pelo universo kardecista desde meus 18 anos, quando voltei a acreditar em vida após a morte e na existência de um ser supremo. Sinto que no momento atual estou bastante envolvido com o tema, participo da montagem de uma peça teatral de temática espírita, tenho intensificado minha leitura na doutrina e me sinto cada vez mais sensível ao assunto.

Por ser a religião com a qual me identifico, a expectativa foi gigante quanto ao filme, e como esperado, acompanhei durante os 102 minutos, uma verdadeira avalanche de emoção, acolhimento e muito amor. Consegui identificar tudo aquilo que venho estudando sobre a Doutrina Espírita. Me parecia a mais completa representação da realidade humana. Sentimentos se misturando dentro de mim naquela sala lotada, onde nem todos compartilhavam das mesmas sensações. Alguns riam do que não entendiam, outros conversavam, questionavam. Angústia, alegria, compreensão, vazio, caridade, amor, tudo isso rolava dentro de mim. Posso até ter exagerado, afinal era apenas um filme, mas um filme que me tocava inevitavelmente, o que podia fazer?

Saí daquela sala ainda em ebulição. Tudo parecia haver mudado, olhava as pessoas saindo, conversando, rindo, não era possível que apenas eu tivesse sido tão abalado pelo filme. O percurso que fiz daí até minha casa foi inexplicável. Não me recordo exatamente dos detalhes, visto que minha mente estava ainda naqueles 102 minutos. Parecia que eu havia flutuado do cinema até em casa. Nada me incomodou, filas, pessoas, demora de ônibus, lotação, aliás, os ônibus foram rápidos e estavam quase vazios para um sábado.

Já em casa, numa rápida pesquisa pela internet, encontrei as primeiras críticas com relação ao filme. Depoimentos de pessoas emocionadas, satisfeitas com a produção, até um presbiteriano que se dizia comovido e admirado com as teorias do espiritismo, que a ele sempre pareceram tão erradas, e claro, achei as famosas críticas negativas que os jornais não cansam de fazer. Criticavam a cidade futurista, as ideias previsíveis, o céu azul, as gaivotas voando, as roupas claras esvoaçantes do elenco, criticaram até o orçamento que é considerado o mais caro do cinema nacional e fichinha se comparado aos padrões de Hollywood.

Bom, ou eu sou um poço de sensibilidade inútil, ou essas críticas não fazem a menor diferença no resultado final do filme. Confesso até que se não conhecesse um pouquinho já de espiritismo, acharia tudo um verdadeiro devaneio. E talvez por isso, a falta de esclarecimento da religião, leve muitos a apontar fatos que desconhecem. Mas afinal o que eles esperavam de um filme que retratava a vida pós-morte? Uma aventura a la Harry Potter? É claro que os acontecimentos são previsíveis, aliás, achei alguns até inusitados. Talvez quem sabe se todos usassem roupas normais tornasse mais crível para alguns. Contudo, tratar do que não se conhece é sempre um tiro no escuro. E quem pode garantir a esses críticos que o céu não é azul e não existem gaivotas voando? Se o céu fosse roxo ou amarelo seria mais interessante pra eles? Acredito que a mensagem retratada é mais significante do que detalhes do "paraíso".

Um tal Paulo Floro, do JC Online de Pernambuco disse que faltava mais naturalidade, mais realismo nas cenas. Como ele sabe o que precisava em um ambiente que ele mesmo desconhece a existência? Chamou até de um pós-vida cafona. Tem que ter moda até pra viver depois da morte, né? Isso é porque se fala de espiritismo hoje como o assunto que está em alta, como se a doutrina fosse um tema qualquer que chega e vai embora, como as crises do petróleo ou os ataques terroristas. E a consequência da exploração demasiada do tema em filmes e novelas, exige dos diretores inovação e tentativas de criar ambientes cada vez mais surreais.

Apesar de todas as sugestivas críticas sobre a produção de Nosso Lar, acredito que o filme é uma grande obra do nosso cinema. Deixado de lado as roupas esvoaçantes, o céu azul e as gaivotas voando, a rica mensagem que fica desse trabalho que vendeu mais de 2 milhões de exemplares em livro, e foi base para a construção da novela A Viagem de Ivani Ribeiro, é a continuação da vida após a morte, através do prisma da Doutrina Espírita. Nenhum outro filme que tenha conhecimento, retratou tão fielmente os ensinamentos do espiritismo como Nosso Lar. E independente de todos os clichês utilizados, a mensagem de amor, perdão, crescimento e continuidade, atravessa a tela e chega aos corações, ao menos dos mais sensíveis. O duro é abandonar a sala depois e perceber que a realidade aqui ainda é outra bem diferente, onde os interesses pessoais sempre falam mais alto e o amor e o perdão ainda estão no fim da fila.

Um comentário:

  1. Adorei o texto você fez e confesso que estou mais curiosa ainda para ver o filme! Depois que assistir venho aqui dá minha opinião!

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