sábado, 20 de dezembro de 2008

Discurso de Formatura

Prezados senhores, é comum ouvir de nossos pais e professores que quando mantemos um foco no nosso objetivo, temos muito mais chances de ser um profissional de sucesso. Acredito que seja verdade. Talvez por isso uma grave miopia me impediu de focar no jornalismo. Nunca sonhei ou idealizei essa cerimônia, como acredito que muitos aqui fizeram. Aliás, nem deveria estar aqui, já que devendo o Trabalho Acadêmico Orientado, não é esse o ano que me fará jornalista.

A primeira vez que olhei para mim diante de um espelho e pensei num misto de satisfação e insegurança “vou ser jornalista”, foi aos 19 anos, quando recebi o resultado de que havia passado no vestibular. Quatro anos depois olho novamente para o espelho e mal posso ver um caminho atrás das grandes montanhas do mercado de trabalho. O único consolo que tenho é saber que terei cela especial caso cometa um dia algum crime.

Durante esses quatro anos tive muito tempo para refletir se estava no caminho certo, se deveria ter optado por outra carreira e cheguei a muitas conclusões. Uma delas é que definitivamente correr atrás da notícia foi um dos grandes vacilos da minha vida. Não tenho o menor talento para a imprensa. Contudo, já que estava aqui, iria até o fim, até porque essa experiência me ajudou a descobrir o teatro, minha verdadeira paixão.

Acho que nada saiu como pensava ou imaginava o universo acadêmico. Não teve trote no primeiro dia de aula. Que universidade que se preza dispensa um bom trote com os calouros? Ao invés disso fomos recebidos com salgados e refrigerante. Já começamos mal acostumados. Primeira semana sem professor e alguns alunos já desistem do curso. Já pensou se todos tivessem feito o mesmo? Não estaríamos agora nesse salão com os nossos pais, amigos e usando trajes finos.

Nossa turma foi um grupo difícil de se definir. Aliás, definição era o que mais faltava, desde a cor da camiseta ao nome da placa. E os ânimos também foram bastante acirrados. A cada ano, novas descobertas, novos inimigos e novos amigos, graças a Deus. Disputas de poder, de inteligência, de superação. Temperamentos fortes e pessoas intransigentes. Ciúmes, inveja, cobiça. Acho que nesses quatro anos fomos leões e gazelas. Ninguém escapou! Perseguimos e fomos perseguidos. Abraçamos e nos apunhalaram. Apunhalamos e fomos abraçados. Não dava mais para saber quem sorria com o coração ou quem sorria com o fígado. Éramos estranhos e íntimos ao mesmo tempo. Não era maluco?

Porém, sobrevivemos e superamos todas as desavenças em busca de uma causa maior, o futuro. Amadurecemos! Aprendemos a viver com as diferenças. Grandes amigos conquistei, outros aprendi a respeitar, mas todos sairão com pelo menos ‘um’ que ficará pra sempre. Se isso fosse teatro, diria que vivemos da tragédia a comédia, mas não é teatro, é jornalismo, e assim nada mais vivemos do que manchetes de jornais.

Ah, não posso esquecer dos mestres, os nossos grandes formadores. Alguns merecem agradecimentos especiais. Tão especiais, que se eu citasse seus nomes aqui, talvez pudesse até ser processado. Porque aprendemos na universidade que jornalista tem que saber a verdade, mas nem sempre pode revelá-la, senão alguém tapa nossa boca. Aqui é igualmente. Mas cada um sabe na consciência os que merecem realmente o nosso respeito e aqueles que só se preocupavam com seu salário no fim do mês, e às vezes nem isso, porque não apareciam. Quantas cadeiras inúteis! Não pelo conteúdo, mas por quem estava à frente.

Agora estamos aqui quatro anos após o primeiro encontro prestes a sermos lançados na vida. Os ensinamentos ficaram, as conquistas acadêmicas iremos levar para o currículo, uma bagagem cultural nos torna mais dignos do que pretendemos exercer, embora um mundo de inseguranças e incertezas ainda nos rodeie. Estou certo de que todos buscarão o seu melhor para mostrar na prática aquilo que aprenderam na academia. Afinal a academia da vida é mais dura de vencer. E mesmo aqueles que trilharem outros rumos levarão sempre alguma lição desses anos. Enfim, está tudo só começando. Muita estrada a percorrer e um mundo de possibilidades ainda por vir.

4 comentários:

  1. faço das suas palavras as minhas (não é novidade)!!!!!!!!Bela foto, boa escolha!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Belo texto!Parabéns! E por isso uma reclamação: porque você não fez o discurso ao vivo e a cores? Com certeza a emoção teria sido outra!

    Não que eu não tenha me emocionado lendo-o no seu blog. Verdades e eparticularidades bastantes pertinentes vc fez sobre a nossa turma!
    Realmente foram anos únicos, pela faculdade e todas as suas implicações...de aulas, professores, amizades, eventos.
    Emfim, de uma forma ou de outra a nossa graduação ficará marcada na nossa hístória de vida, só quem viveu esse tempo junto é que sabe o qt nos acrescentou.

    bjo!

    saskia

    ResponderExcluir
  3. E ele ainda diz que não tem talento para o jornalismo! Até parece, é piada mesmo! Plausível seu texto... rodeado de críticas, como um bom jornalista, trágico como um bom ator e saudoso como um digno ser humano!!!
    Parabéns!

    Clara Marinho

    ResponderExcluir
  4. Samucaaa...
    Adorei. Um texto na medida certa, verdadeiro e sem hipocrisia. Engraçado que, no momento do discurso de final de curso, todo mundo se ama e tudo foi perfeito. Entretanto, a realidade é bem diferente. Confetes são jogados para deixar a festa mais colorida, rsrs.

    Bjos

    ResponderExcluir

Colheitas