sexta-feira, 9 de maio de 2008

O Embrulho e o Presente

Mais um dia das mães se aproxima. As lojas começam a explorar os presentes para as mamães com promoções e ofertas “imperdíveis”, naquela que já é a segunda maior data de aquecimento do mercado, perdendo apenas para o Natal. Mas será que as lojas sabem mesmo o melhor presente para cada mãe em particular? E será que esses presentes são mesmo o que toda mãe desejaria ganhar nesse dia? Mãe é um ser complicado. Sofre dores terríveis para nos pôr no mundo. Depois nos enche de carinho e proteção ao longo da vida. Sofre, rir, chora e se desespera conosco e com os nossos problemas. Nos surpreendem quando achamos que já sabemos tudo delas. Somos sempre os seus bebês. Os mais bonitos do mundo. Nos machucam para ensinar o caminho do bem e se mutilam quando alguém nos faz o mal. Tem como encontrar nas lojas algo que nem a essência humana ainda conseguiu desvendar?

Era junho de 1994, Copa do Mundo dos Estados Unidos. O Brasil fervia na busca pelo tetracampeonato. Fitas verdes e amarelas enfeitavam as ruas sempre a cada jogo. Era época das famosas luvinhas da vitória, que cobriam apenas os dedos indicador e médio com as cores do Brasil. Eu estava na casa dos meus exatos 9 anos de idade. Costumava usar uma camisa verde e amarela nesses dias e outra branca com estrelas azuis e vermelhas e com o cachorrinho mascote da Copa. Nem chegava a acompanhar com precisão os jogos. A minha animação era ver a gritaria na rua, as comemorações nos bares e restaurantes a cada gol e as passeatas recheadas de bandeiras ao término de mais uma etapa.

Naquela época, comecei a sair de casa com os amigos seguindo os conselhos da minha mãe. Os amigos que me acompanhavam, Adriano e Eusélio, eram meus vizinhos. Geralmente saíamos à tardinha, depois de tomar banho e nos perfumar todo. Até parecia que íamos nos encontrar com várias garotas. Nós percorríamos vários pontos da cidade. Andávamos por estradas de terra, ruas que não tínhamos o costume de passar com freqüência, casas de farinha abandonadas e tudo era sempre uma descoberta. Chegamos a penetrar em eventos de escolas, festas de aniversário de algum amigo de Adriano sem sermos convidado. Um dia quando percebi estávamos explorando a vegetação dos muros do hospital.

Nossa aventura tinha um destino novo da cidade a cada dia e sempre terminava na casa da minha avó por volta das 6h da tarde. Já havia se tornado um ritual. Todo dia naquelas horas já estávamos prontos para caminhar. Contudo, naquele momento de Copa, o clima estava pesado na cidade. O fluxo de carro havia se intensificado e as comemorações eram imprevisíveis e até agressivas. A pedido da minha mãe, nossos passeios foram encurtados em meia-hora nesse período, horário em que os jogos eram transmitidos. Porém, certa vez, algo fugiu ao nosso controle.

Saímos de casa como de costume. Percorremos os lugares que havíamos escolhidos para aquele dia, na certeza que teríamos que retornar cedo. No entanto, o passeio foi se esticando e fomos descobrindo novos lugares, querendo ir sempre mais a fundo. Já era noite quando atravessamos a rua de trás da casa da minha avó. Não queríamos terminar o passeio daquele dia ali. A cidade estava em festa com mais uma vitória do Brasil. Assim, seguimos na direção da igreja matriz. Nossa intenção era percorrer outros caminhos, mas paramos lá e resolvemos explorar as escadarias. Subíamos um degrau e saltávamos para a rua. Depois dois degraus, três, quatro, até nos aproximar do último e saltar já a uma altura considerável. Essa brincadeira durou algum tempo e quando percebemos, já havíamos extrapolado o limite de voltar para casa. Deixamos a igreja e pegamos o rumo de casa.

Ainda na praça da igreja nos encontramos com uma amiga da minha mãe que nos informou que ela estava desesperada atrás de mim. Aceleramos os passos e quando chegamos na esquina de um beco da rua da minha avó, avistamos uma grande multidão reunida ao fim. Adriano me perguntou sobre o que teria acontecido e eu em tom de brincadeira respondi: -“é minha mãe atrás de mim”. Surpresa foi a minha quando chegamos ao fim do beco e vi minha mãe falando desesperada, porém um pouco aliviada, no meio de toda aquela gente que olhava pra mim como se eu acabasse de ser resgatado de um prédio em chamas.

Realmente tinha sido minha mãe a responsável por todo aquele fuzuê na rua. Eu só a ouvia me perguntar onde eu tinha me enfiado, enquanto olhava assustado. Ela já tinha rodado várias ruas, batido na porta de várias pessoas, procurado a polícia e solicitado carro para sair atrás de mim seja onde fosse. E para aumentar o terrorismo, alguém dizia ter visto crianças que tinham sido atropeladas por perto. O desespero era evidente em seu rosto. Mas ao invés de uma surra, um abraço e um beijo acalmaram a situação.

Depois desse dia, meus passeios foram perdendo a força e acabaram alguns meses depois. Entretanto, descobri que nada pode ser maior para uma mãe do que se sentir impotente quando acredita que o filho está em perigo. Percebi que o melhor presente de uma mãe no dia das mães é ter a certeza que seu filho está bem, se alimentou direito, dormiu tranqüilo e continua respirando. Sua maior satisfação nesse dia é saber que por ser mãe, pode comemorá-lo. Então, o presente não é o que chega embrulhado no papel com várias fitas coloridas e um cartão em volta, mas as mãos que entregam e os braços que envolvem, mesmo que algum dia a tenham feito arrancar os cabelos e passar o maior vexame na rua. Afinal, o que é vexame a quem tenta proteger um ser com toda sua força, como se ainda o gerasse no mais íntimo do seu útero?

Um comentário:

  1. Essa historia e assim mesmo, quando a mae ama seu filho ela faz qualquer coisa pra proteije, e muito interecenta quando ele fala que ao volta viu muito gente no beco olhando pra ele,e a mae dele dissisperada e quando viu ele foi logo abrçando, e o amor de mae que fala mais alto,como e bonito amor de mae.Nao tem presente melhor que a mae da gente, feliz dia das maes pra vc.

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