quarta-feira, 14 de maio de 2008

Diário de Lucas - Parte III - "O Casamento"

“Era o vestido mais bonito que já havia visto. E a noiva mais bela que já pude imaginar. Estava na sala da casa do professor Miguel. Um grande imóvel com um imenso jardim rodeado de frondosas árvores e uma bela piscina. Eu observava as manicuras e cabeleireiras prepararem a professora Elvira para a grande ocasião. O sorriso no rosto dela me feria como agulhas no peito. Não merecia vê-la ir embora assim. E pior que tudo, eu havia sido convidado para ser padrinho dela ao lado da Amanda. Decidi deixa-la com as companheiras e fui ao jardim, onde os últimos preparativos estavam sendo feitos. Alguns convidados já circulavam em volta da piscina. O padre espalhava seus livros e taças sobre o altar improvisado. Ao lado dele, Carol tentava conter a ansiedade do Miguel.

Fui ao encontro de Amanda, Eduarda e Susi. Depois de algum papo-furado, fomos magnificados com a presença de uma criatura mais irreverente que a Rossicléia e mais enigmática que o Zé do Caixão. Era Mãinha! Uma baiana que não levava desaforo pra casa. Seu parceiro não tardou em chegar. Rafa tinha ido passar as últimas férias na Bahia e lá encontrou não só sua cara-metade, como as delícias e os costumes baianos, num foi, meu rei? Ainda tivemos que assistir uma demonstração de suas nuances, antes dos dois saírem agarrados pelo jardim.

Pouco tempo depois, eu entrava com Elvira e caminhava pelo solado vermelho em direção ao padre, ou mais precisamente a um torto rival. Bem, era hora de encarar os fatos. A professora Elvira, embora demonstrasse uma graciosidade que lhe era própria da sua jovialidade, já era uma mulher, com experiências pessoais até mais do que profissionais. E eu era simplesmente um aluno. Um aluno que levava um namoro com uma garota da turma e desejava sutilmente uma professora. Ela estava decidida a desafiar novos trilhos e nem desconfiava dos interesses por trás do sorriso camuflado, sempre em resposta à sua simpatia.

Ainda cheguei a gelar quando o padre perguntou a célebre frase ‘alguém contra?’. Pensei em me manifestar. Mas o que diria? O que meu irmão pensaria de mim? E a Amanda? A Amanda! Finalmente eu tinha olhado para ela. Estávamos juntos há um bom tempo. Mas o que sentíamos um pelo outro não parecia ser o mesmo. Dessa forma, encarei o ‘sim’ e o beijo que poderia ser meu. Minhas pernas ainda tremeram, mas não foi pior do que a tal da Mãinha, que se jogou no chão na hora do buquê para agarrá-lo e quem acabou recebendo foi Eduarda.

Decidi que não iria à festa. Comentei com a Amanda e o Gustavo que estava com enxaqueca e precisava ir para casa. Amanda ainda quis ir comigo, mas acabei a convencendo a ir com o pessoal. Em casa pude refletir sobre todos os sentimentos que acabara de presenciar. Estaria mesmo amando a professora ou era apenas paixão de adolescente? Já era por volta das 3 da manhã quando ouvi os passos do Gustavo entrando em casa. Ele ainda chegou dedilhando as emoções e a felicidade estampada no rosto de cada um, em particular no de Elvira. Fingi estar com sono e pedi para ele não me narrar os flashes do último capítulo.

Na manhã seguinte tomei uma decisão. Fui à casa da Amanda, saímos até o parque, tomamos sorvete e no meio da conversa decidi pôr fim na nossa relação. Segundos após sua perplexidade, notei a sua conformação e percebi que de certa forma aquilo já não era tão surpreendente quanto imaginava. Foi uma longa conversa que se sucedeu a partir daí, e nem o gelo do sorvete derretendo em nossas mãos, foi suficiente para romper nossa concentração. Ali se encerrava uma história. E por mais que tivesse certeza de que já não teríamos futuro, não fiquei satisfeito com a resolução dos fatos. Estava perturbado.

O semestre seguinte chegou como uma tempestade. Entrei na universidade para o curso de arquitetura e fui morar na capital com três amigos. De recepção fomos limpar carros no trânsito cobertos de tinta e farinha. Era o famoso trote. Uma nova turma estava prestes a se formar. Novas aventuras, emoções e claro, paixões. No momento estava aberto a tudo. Não queria me encanar com ninguém. Cheguei a ficar com várias garotas da faculdade. Fui a muitas farras com a galera. Parecia realmente que o passado de incertezas e nuvens escuras estava dizendo adeus. Curtia com todas as letras o significado da expressão ‘liberdade’.

As primeiras férias chegaram mais rápido do que nunca. Em um momento estava sozinho com os amigos na capital e no outro olhava o horizonte e as belas praias de Floripa. Resolvi viajar sozinho para fugir um pouco da agitação de Vitória. Me habituei a caminhar descalço pela areia todas as manhãs, sentindo as ondas baterem contra as pernas e aquecerem a circulação. Nada poderia me afetar ali, naquele pedaço de édem. Foi quando de repente, avistei uma jovem que vinha ao meu encontro descalça, com um vestido transparente e um grande chapéu, que segurava na cabeça com as mãos. Sua presença me pareceu familiar. Logo percebi que não era o único a pensar assim. Ela me olhava querendo me identificar também e conseguiu. ‘Lucas’! Ela exclamou com um imenso sorriso, antes de vir correndo ao meu encontro. Eu não podia acreditar. Era a professora Elvira. Ela me abraçou fortemente e por um minuto voltei a ser o mesmo Lucas de meses atrás. Cheio de sonhos, paixões secretas e incertezas”.

Lucas Mendes

Um comentário:

  1. Quem e sua fonte de inspiração? A minha é você... te amo muitao...

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