quinta-feira, 24 de abril de 2008

"A 'psicóloga' está?"

Os complexos mecanismos que compõem a lógica da vida moderna, interferem diretamente na vida pessoal de cada um. O desgaste físico e psicológico afeta o equilíbrio do ser humano e por isso, não raramente, são evidenciadas crises de estresses de altos níveis. Nessas horas recorremos às mais inusitadas saídas para driblar a tensão e continuar na “roda-dança”. Daí a sobrevivência de um profissional que admiro de coração: o psicólogo. Ele entra em cena para acalmar os ânimos e dizer: “ei, você não está sozinho no mundo”.

Quando criança escutava dos mais velhos que psicólogo era médico de doido. Uma relação leiga que se estabeleceu pelo trabalho do profissional voltado para a mente. Porém, o psicólogo nem é quem lida especificamente com os doentes mentais. Nesses casos surge a figura do psiquiatra, que trata através de medicamentos, ao contrário do terapeuta que apenas trabalha ao longo dos anos, a mente e as emoções do paciente. Bem, essas teorias perdem logo as facetas quando nos deparamos perturbados com os conflitos sociais.

Havia perdido mais de 10 kg em 3 anos e 3 kg em apenas dois meses. O desgaste emocional, ocasionado pelas mudanças bruscas de moradia, estavam me desviando dos principais objetivos daquele ano. Era ano de vestibular, o cursinho apertava o juízo e os problemas particulares me perturbavam ainda mais. Me vendo naquela situação deprimente, minha mãe decidiu procurar um psicólogo para mim. A idéia me pareceu bastante confortadora, apesar do “money” que íamos desembolsar.

Pouco tempo depois, estava eu para minha primeira consulta com a doutora... Pronto! Aqui que começa o problema. Foi uma fração de segundo e a doutora pronunciou pela única vez o seu nome. Algo semelhante a Gemima, Germina, Germana, Agemima, assim. Encabulado com tanta situação me preocupando e ansioso demais para pronunciar um “A” naquele dia, não perguntei novamente o nome dela, nem encontrei nenhuma plaquinha que me ajudasse a esclarecer as idéias.

Nossas consultas não duraram mais que 4 meses, uma vez por semana. E nesse período evitei ter que chamá-la ou mesmo perguntar novamente o seu nome. E quanto mais o tempo passava, mais difícil ficava de fazer essa pergunta. Quando tinha que ligar algumas vezes para a clínica para saber se poderia trocar de horário, perguntava sempre pela “psicóloga”. E quando me encostavam na parede para saber de qual estava falando, balbuciava algo do tipo: “ggggiiimima”. E mesmo quando elas pronunciavam o nome correto naquela – “ah, fulano?”, eu não conseguia entender. Minha mãe a chamava de Argemira.

Uma vez tentei procurar o nome dela na lista de consultas da recepcionista, esquivando o olho a ponto de o virar quase em um ângulo de 180º. Mas nem toda essa acrobacia visual permitiu decifrar esse mistério que me assolava o juízo. Cheguei a puxar conversa com outros pacientes para saber se também se consultavam com ela para que pudessem citar seu nome, mas não tive a sorte de encontrar ninguém que fizesse terapia com ela naqueles horários.

Assim, os meses foram se passando. Fui conseguindo desabafar, expor as minhas mazelas, os meus aborrecimentos e alegrias, mas só não conseguia dizer que não sabia o seu nome. Na verdade, acho que essa aventura serviu para me descontrair um pouco mais e me ajudar na saída do poço. Uma vez levei uma cópia da fita do filme que fiz “A Aventura Está Lançada” para que ela pudesse assistir e comentar comigo as emoções que passei na época. Bem, isso ainda foi quase no início das sessões e até a última semana ela ainda não havia assistido todo.

O ano acabou e minhas sessões também. Não passei no vestibular naquele ano. Acho que os problemas acumulados ao longo dele foram maiores do que o conhecimento assimilado. Enfim, mas estava recuperado para um novo desafio. Quando as aulas retornaram ainda fui falar com Gemima, Germima, Agemima... , acreditando que ela iria me devolver o filme. Ela havia esquecido. Bom, depois desse dia não há vi mais. A fita ficou com ela. Se ainda a tem hoje e terminou de assistir algum dia, não faço idéia, mas também não tenho nem mais cara de ligar para a clínica para perguntar novamente pela “psicóloga” e me enrolar outra vez em um novelo de lã quando elas me perguntarem –“qual?”.

Um comentário:

  1. Quase morri de rir lembrando dessas suas historias engraçadas!!!!! Voce sabe elas tbm são inspiraçoes pra minhas maluquices do dia a dia, pelo seu comentarios de hoje nesse blog nata-se que houve um aevolução muito positiva. E com certeza sua psicóloga iria ver que as secões serviram bastante uma pena hoje vc não saber o nome dela, ela iria ficar orgulhosa de vc como eu estou agora de vc falar do seu passado e de coisas do cotidiano, isso ajuda muito! Saudade de conversar contigo...

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