quarta-feira, 16 de abril de 2008

Diário de Lucas - Parte II - "A Busca"

“Era quase meio-dia e nós estávamos ali há quase 1 hora olhando angustiados para o horizonte em busca de alguma luz, ou melhor, algum aluno. Ninguém aparecia. Zeca, Amanda e eu discutíamos sobre o que devíamos fazer. Se permanecíamos no papel de seguranças do ônibus ou se nos arriscávamos no desconhecido em busca de localizar a galera. Cada segundo era decisivo, mas não conseguíamos entrar em acordo. Zeca defendia a nossa permanência no local por acreditar que a mata era desconhecida e terminaríamos perdidos também. No fundo ele estava certo. Se por acaso algum aluno voltasse, seria melhor encontrar alguém ali do que se deparar com o ônibus vazio. Contudo, aquela situação me angustiava. Que rumo teriam tomado? Haviam encontrado abrigo, sinais de presença humana? Onde estariam agora?

Minha esperança era Amanda, que acreditava na possibilidade deles estarem repousando numa linda rede azul na varanda de algum morador da região, enquanto nós ficávamos ali aflitos e poupando mantimentos. As horas se passavam devagar e os mosquitos, na falta da Milena, começaram a nos atacar. Vez por outra nos afastávamos e íamos ao rio dar um mergulho. A noite chegou com toda ferocidade. Nossa tv tinha se transformado em um esplêndido cosmo com direitos a relâmpagos e trovões. Ainda bem que a chuva não caiu. Passamos a noite especulando todas as possibilidades que poderiam acontecer a nós e ao pessoal se permanecêssemos imóveis ali. Lá pelas tantas da madrugada decidimos que era hora de nos embrearmos mata adentro.

Bem o sol raiou, nos despertamos, arrumamos nossas bagagens com tudo que seria suficiente para nos abastecer uma semana, caso não conseguíssemos mais voltar e abandonamos o ônibus na estrada. Nenhuma lagartixa atravessava o nosso caminho. Parecia que as pessoas haviam esquecido aquele pedaço de terra que habitávamos agora. Quanto mais andávamos, mais estradas, trilhas e rastros surgiam pelo caminho. Era preciso seguir os principais vestígios deixados pela mata para descobrir qual caminho a galera tinha tomado. A tarefa às vezes se tornava fácil quando nos deparávamos com as embalagens amassadas das balas de goma do Rafa. Porém, elas que se encontravam quase uma atrás da outra, começaram a ficar raras e depois a sumir. Nossas pistas agora precisavam ser mais detalhadas.

Foi uma longa manhã que tivemos pela frente. Alguns momentos, cheguei a pensar que tinha sido uma péssima decisão, mas continuava caminhando. Uma pausa para uma breve refeição e logo mais seguíamos pelos rastros. Chegamos a encontrar embalagem de salgado e biscoito recheado, fiapos de calça agarrados em arame farpado e até um boné de algum esquecido. Nosso medo era de encontrar mais adiante vestígios de sangue, mas não tivemos essa desventura, ainda bem. Por volta das 2h da tarde chegamos a um resto de fogueira próximo a uma majestosa oiticica. Lá encontramos mais sinais da presença da galera e de que estávamos no caminho certo. Começamos a seguir mais depressa ainda. Estradas e mais estradas até que finalmente escutamos vozes que não eram as nossas. Era Milena. Ela gritava pedindo por socorro. Corremos até onde vinham os gritos e finalmente num misto de alegria e aflição, encontramos a galera.

No alto de um pequeno desfiladeiro, Milena estava pendurada pelos braços enquanto outros tentavam puxá-la. Ficamos estarrecidos com a situação. No puxa-puxa, Gustavo conseguiu subi-la, mas acabou se desequilibrando e caindo do barranco. Uma nuvem escura tomou conta dos meus olhos. Passamos o dia em busca do pessoal, desejando não encontrar sangue e de repente ele decide se exibir bem na nossa frente. Corri para o local onde Gustavo tinha caído e o encontrei deitado com o braço e a perna machucados. A malinha de primeiros socorros agora ia finalmente nos ser útil. Carol chegou logo em seguida com uma aflição visível e o beijou aliviadamente na boca. O quê?! Peraí! E a Milena? Ela chegou depois, toda desarmada pedindo desculpas pela queda. É, muito mais coisa havia acontecido do que eu pudesse suspeitar durante esses dias pela mata.

Ferido atendido, era hora de voltar ao ônibus e nos juntar aos demais. É isso aí! A galera havia se dividido em duas equipes com o intuito de retornar ao ônibus. A outra já havia de ter chegado. Assim, partimos em seguida em uma equipe de 10 pessoas. Três horas depois começamos a avistar o amarelo vibrante do ônibus. E logo os demais alunos e professores correram ao nosso encontro. Eles haviam se comunicado com a escola e um novo ônibus estaria vindo para nos buscar. Finalmente um merecido descanso. Opa! O professor Miguel quis discursar. Depois de enfeitar com belas recordações os momentos tensos que passamos por lá, ele fez algo que me abalou profundamente e pelo qual não estava preparado. Ele pediu a professora Elvira em casamento e ela aceitou com um beijo agradecido entre os alunos que aplaudiam emocionados. O que quer que eu sentisse por ela, teria um fim ali se eu não fizesse alguma coisa”.

Lucas Mendes

Um comentário:

  1. Ah, Lucas se eu soubesse que voce sentia algo por mim, teria recusado logo aquele pedido, afinal nosso casamento não deu certo mesmo! AINDA TENS UMA CHANCE AFINAL NÃO ESTAMOS MORTOS NÉ?

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