segunda-feira, 31 de março de 2008

Carta Social

Alguém já parou para pensar porque existe o termo carta social nos Correios e qual a sua função específica? Basicamente, ela existe para atender as camadas sociais que não detém meios de pagar pelo envio de uma carta. Mas ainda existem regras que determinam quando uma carta pode ou não ser enviada como social. Questões de pesos, remetentes físicos e não jurídicos. Claro, que existem aquelas pessoas oportunas que utilizam o termo “social” na correspondência para enviar uma carta ao valor de um centavo. Minha namorada pode-se dizer que já entrou nessa onda.

Não é de hoje que Ingridy costuma ter atitudes que me surpreendem e que fariam minha prima Ana Carla enfiar a cabeça no primeiro buraco que encontrasse. Numa dessas vezes, ela ousou brincar com o maior pombo-correio brasileiro, os próprios Correios. Quando eu estudava em Natal entre os anos de 2003 e 2004 costumava escrever sempre para ela. A internet ainda não dominava as nossas vidas e os Correios era parada obrigatória pelo menos uma vez ao mês. Costumava escrever aos domingos e quase sempre ficava a tarde toda relatando os meus dias e sonhando com futuros indefinidos. Ela costumava dizer que eu escrevia livros a cada carta. Eu chamava de jornais. Enfim, era muita vida nos papéis.

Certa vez, na fila dos Correios de São Miguel, enquanto esperava para respostar uma de minhas cartas, Ingridy ficou atenta para um fato que ocorreu com uma Irmã que estava à sua frente. Na verdade a Irmã desejava enviar uma carta com a definição “social”, mas como estava postada com o pré-nome Irmã, ela não poderia enviar assim. Isso ativou os olhos e os ouvidos de Ingridy. Ela descobrira ali a mina da fortuna dos Correios.

Sempre querendo desafiar o sistema, a primeira coisa que fez quando chegou sua vez de ser atendida, foi pedir uma caneta ao atendente. Ela escreveu “carta social”, olhou sorrindo para ele e entregou a carta com uma pergunta mais que retórica: “quanto te devo?”. Sem troco para ela, Ingridy o informou que ele estaria devendo 4 centavos a ela e que ainda iria cobrar.

Assim a carta chegou ao seu destino, ou seja, eu!! Ingridy então me contou numa empolgação só que eu também poderia enviar cartas pra ela pagando “um centavo”. Eu já havia ouvido falar sobre esse tipo de correspondência, mas nunca ousara enviar, até porque com a quantidade de papel que escrevia, seria barrado na hora. Mas ainda assim, resolvi arriscar. Então na minha próxima correspondência escrevi “carta social”, cheguei aos Correios, olhei para a atendente e entreguei a carta. Depois de olhar e conferir a definição, ela não só passou a carta como me devolveu os 4 centavos. Isso mesmo! Ela me devolveu os 4 centavos em forma de selos. Bom, querendo ou não, se eu poupasse os papéis, teria dinheiro garantido para mais quatro cartas.

Já Ingridy em São Miguel preparava sua divertida brincadeira comigo através dos Correios e que me faria ver que dela não se pode duvidar nada. Assim ela escreveu 10 cartas com o mesmo destino, apartamento 203, Lagoa Seca, Natal e foi aos Correios. Todas estavam assinadas como “carta social”. Seu sorriso na fila já dizia o que aprontaria. Ela entregou as cartas e lembrou ao atendente dos quatro centavos da última carta. Sua estratégia a fez enviar as 10 cartas por menos de 10 centavos.

Enquanto eu despertava numa bela manhã e abria a porta do apartamento para sair, Zezinho, o zelador do prédio, me informou que havia chegado algumas cartas para mim. Estranhei o termo no plural, mas fui convencido quando o vi retornar com 10 cartas nas mãos. Fiquei espantado. Não mais que ele quando olhou para mim. Sua primeira pergunta foi se eu havia me tornado famoso e ele não sabia. Eu sorri e entrei. As cartas estavam assinadas em nomes diferentes. Na verdade eram os nomes dos pares românticos das histórias que escrevi.

Foi uma situação inusitada, divertida e desafiadora. Ingridy havia se utilizado de um recurso dos Correios para brincar. Quem não gostaria de abrir a sua caixa de correspondência numa determinada manhã e encontrar 10 cartas de uma mesma pessoa para você? Pelo menos um sorriso elas conseguiriam nos arrancar. Seria uma prova, uma loucura de amor. Dessas que a gente guarda apenas com o coração e com um sorriso. Sua intenção era enviar uma carta a cada manhã, para que cada manhã uma carta chegasse para mim, mas como os malotes têm dias definidos para sair de São Miguel, enviou as 10 de uma só vez. Ainda assim, a brincadeira virou história e entrou para o baú das aventuras secretas de Ingridy e Samuel.

5 comentários:

  1. Amor ficou muito legal mesmo a cronica das cartas sociais. Quero dizer que ainda continuo mandando- mas como social e as vezes eu levo cinco resia e ele nem cobram kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!!!!!!!!!!!

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  2. Samuel, como sempre seu texto está impecável...
    Cara, ao lê-lo me lembrei de inúmeras situações que passei com essas danadas cartas sociais. Já fui um usuário fiel deste método de correspondência.
    Principalmente quando me mudei para Campina Grande...
    Uma vez fui barrado nos Correios, pois naum tive a mesma sorte de Ingridy. Levei dez cartas assinadas como sociais, mas só me deixaram enviar cinco por dia...
    Fiquei super frustrado, mas não perdi o hábito...

    Parabéns!

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  3. legal mesmo essa historia de carta social
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  4. pode enviar mas de 1 carta mesmo!!!

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  5. vou enviar para os meus amigos que moram na bahia

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