quinta-feira, 29 de novembro de 2007

A Mente Por Trás Da Emoção

Uma garota corre pela praia de braços abertos e seu namorado a persegue sorrindo. Um rapaz abre uma lata de cerveja e comemora com os amigos sua conquista no esporte. E aquele cachorro que salva o seu dono e ganha o dia? Pois é, todos esses momentos podem ser apenas traços do dia-a-dia de qualquer pessoa, mas podem também ser cenas de um filme, novela ou seriado. Há um detalhe, no entanto, que muitos não param para se atinar. Por trás de toda a produção, personagens, diretores há um texto, alguém que pensou e idealizou tudo o que se vê. Esse é o roteirista.

Nos Estados Unidos a greve dos roteiristas colocou pelo menos um pouco em evidência a carreira desses profissionais. Há algum tempo venho desejando escrever algo sobre isso, mas o tempo e os compromissos me impediram de fazê-lo. Contudo, ainda quero manifestar meu pensamento tendo em vista a relevância do assunto para mim.

Escrever e imaginar situações, fantasiar, vivê-las no papel e na mente são algumas das emoções dessa profissão tão solitária. E solitária por dois motivos. Primeiro porque a arte de escrever é por si só solitária, embora alguns roteiristas optem pela colaboração e parceria com outros, na hora de pôr as idéias no papel é um encontro consigo mesmo. E segundo porque a profissão de roteirista ainda não tem o merecido valor que ela deveria ter.

Quando se produz um filme, um seriado ou algo do gênero o nome de destaque não é o do roteirista, quem brilha é o diretor. É totalmente aceitável e merecido o trabalho do diretor, foi ele quem deu vida e buscou o melhor de si para transformar aquela história agradável ao público. Entretanto, esquecem que sem o trabalho daquele que escreveu todos os passos que o diretor devia tomar não haveria honra alguma. Não seria possível destacar o trabalho dos dois com a mesma importância? De quem é o filme afinal, de quem escreveu ou de quem dirigiu? Muitas vezes, quando o próprio roteirista não produz o filme também, ele passa a ser de quem dirigiu.

No Brasil o papel do roteirista só ganha grande ênfase nas produções das telenovelas. O autor de novelas é sem dúvida aquele que detém o grande estágio de um profissional dessa área. Talvez pela longa jornada que é manter uma novela no ar ele seja tão reconhecido. O mesmo não acontece com autores de sitcons e filmes brasileiros. E ainda sendo a única referência em termos de sucesso profissional, o espaço da telenovela é bastante fechado. A Rede Globo que controla a grande produção da teledramaturgia brasileira mantém um núcleo em torno de dez autores fixos alternados nos três horários de exibição da casa. Mas nos bastidores escondem-se cerca de 200 roteiristas com trabalhos secundários, engavetados e congelados à espera de uma aprovação quase que irreal de sua sinopse.

A nova janela que se abre do outro lado do muro parece caminhar na mesma direção. A Rede Record trabalha com autores que estavam engavetados na Rede Globo e já são reconhecidos tanto no trabalho como no financeiro. Tiago Santiago, autor de novelas como Escrava Isaura e Prova de Amor já recebe o mesmo que o consagrado Gilberto Braga da Globo. Contudo, uma nova ninhada de roteiristas entrarão na emissora e terão que se preparar para o frio do novo congelador.

Apoio a iniciativa dos roteiristas americanos que lutam por uma fatia mais do que justa das vendas dos DVDs dos filmes e dos seriados, um grande mercado que se abre mais a cada dia. Quem se dedica em ficar horas intermináveis diante do computador escrevendo, vivendo, mergulhando e fugindo do mundo merece uma atenção mais especial. Afinal, nós que escrevemos, escrevemos porque gostamos, escrevemos porque queremos compartilhar nossa visão de mundo com as pessoas e tentar quem sabe mudar um pouco a concepção que a sociedade faz dele. Abrir os olhos para uma nova realidade e fazer sonhar, imaginar, planejar e desejar estar em um lugar melhor, onde tudo seja possível. E só assim, através das teclas do computador, uma letra se junta a outra e consegue levar esperança, brotar emoções e transformar o que parecia fantasia na mais pura realidade. Porque se uma criança passar por um mendigo ao término de um filme e o olhar diferente, já fizemos a nossa parte.

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